De como a gula derruba um aspirante a atleta - Meia-maratona do Rio 2004
Pois bem! Fim de semana prolongado, feriadão de 7 de setembro. E lá fui encarar a minha segunda meia-maratona do Rio. Ao contrário do ano passado, neste ano eu corri mais com o coração que propriamente com as pernas. De fato, este ano relaxei um pouquinho na preparação. Não me contive às tentações da gula e também me entreguei aos enebriantes prazeres vinículos do deus Baco.
Contagem regressiva. Quinta-feira, 02 de setembro. Comecei o dia comendo um enorme e calórico pastel especial – aquele que tem até ovo cozido dentro, uma metade em cada banda. Na sexta, dia 03, vasculhando a geladeira, deparei-me com uma pizza de pepperoni. Para acompanhar, nada melhor do que o Santa Ana, aquele vinho argentino que custa por volta de R$ 6,90 no Extra. Atualmente a melhor relação custo-benefício dentre os vinhos importados. Bom, a corrida seria só no domingo. Uma pedaço de pizza não faria mal algum. Afinal eu ainda teria o sábado para me recuperar.
Sábado, 04 de setembro de 2004, 7:11h. Chego ao Rio, o tempo estava meio encoberto, sujeito a chuvas e trovoadas. Algumas coisas no Rio soam estranhas para um paulista. É um misto de descontração que às vezes descamba para a informalidade exagerada. Exemplo, perguntei no terminal se o ônibus estacionado passava pelo aterro do Flamengo. O motorista respondeu que iria perguntar ao fiscal. Ou seja, dependendo de algumas conjecturas do trânsito, os itinerários dos ônibus são alterados. Isto lembra-me o princípio da incerteza de Heinseberg (Atomística, Química, lembra?). Não é possível determinar, com a exatidão, a posição do elétron no átomo. Naquela não-linha de ônibus, não é possível determinar onde ele pode estar na cidade. Enfim, o fiscal definiu o trajeto e, para a minha sorte, incluía o aterro do Flamengo, local da minha estadia, a casa da Patrícia e da sua filha, a Priscila, que agora conta com os seus doces e indeléveis 17 aninhos. Aliás, ela é a minha melhor amiga de 17 anos, que mora no Rio.
Fui apresentado ao Marco, o namorado da Patríca, que é do País de Gales (esqueci de perguntar qual a nacionalidade de quem nasce lá! Galês? Não, acho que não. Galês deve ser da Galícia. Galeano? Não, este foi um jogador do Palmeiras). Gente boa o cara. Senso de amor sutil, inteligente e impiedoso, típico dos britânicos. E mais, ele manda muito bem na cozinha. Eu iria manerar na alimentação. Mas, o meu intento não resistiu a uma sensacional comidinha caseira, incrementada com uma receita de legumes ao forno simples e deliciosa. E para completar, regado a um legítimo chileno Concha Y Toro, o meu vinho favorito. Sensacional!
E a dieta pré-corrida, onde ficou nesta história? Calma, eu ainda teria a tarde e a noite para me recuperar. Aí começou o meu drama silencioso: uma revolução químico-estomacal desarranjou o meu sistema digestivo. Como assim? Só pode ter sido aquela pera que eu comi depois do almoço. Não me caiu bem. Decidi que ficaria só a base de bolacha (no Rio eles falam biscoito) e sucos.
Gentilmente, a Pri-17-RJ foi dormir com a sua mamãe e ofereceu o seu quarto para eu dormir. Adoro quarto de adolescentes-meninas. Cheios de artefatos, almofadas transadas, bichinhos fofinhos, cores e mais cores. Apaguei as luzes e assim que me deitei, um céu estrelado acendeu no teto. Explico, o quarto é ornamentado com aqueles decalques fosforescentes em formas astrais, que refletem luz e brilham no escuro.
Domingo, 05 de setembro de 2004, 7:07h, dia de corrida. Que noite agradável foi aquela! Sonhei muito! Só que não lembrei de nada. A sensação é de que foram sonhos intensos, grandiosos, com tramas dignas de um filme épico. É chegada a hora de ir para São Conrado, local de largada. Encontrei o Luis Augusto, companheiro de algumas caminhadas, que estava fazendo um tour com a namorada (fotógrafa de plantão, a doce Raquel) e, de quebra, havia se inscrito na corrida . Aqui cabe um parênteses. O L.A é uma figura à parte. Sem preparação específica, ele vai lá e corre. Deste jeito, digamos, heterodóxico, ele já acumula no curriculum duas maratonas completadas e outras meias-maratonas. Se em alguns trechos ele cansa, pára até se recuperar e volta a correr, no ritmo dele, sem stress. Mais que uma estratégia de corrida, este jeito tranquilo de encarar uma situação se revela um estilo de vila.
O clima estava meio cinzento, como no dia anterior. Incrível! E não é que a meteorologia acertou de novo? Como previsto, o sol abriu e sorriu para o Rio. Começa a corrida. Para nós, os 99,7% participantes-coadjuvantes, a corrida começa efetivamente uns 10, 15 minutos depois. Em tempos de internet, emparelhei lado a lado com uma bela moça malhada, desfilando na avenida a beira-mar o seu iPod super fashion.
Quanto à minha performance, paguei pela boca . Flatulento, nos primeiros 7,57 Km, segui num ritmo leve. Até os 15,37 Km eu fui pianinho, percebendo que abusara na alimentação. A partir do Km 18,11 as pernas gradativamente começaram a me faltar. O que fazer? Glicose na veia, ou melhor, Hershey´s na boca. Diante daquele céu azul, o céu da minha boca, adocicado pelo chocalate, me manteve ativo. Paulatinamente (adoro este advérbio) começo a ressurgir das cinzas e, impulsionado por um clarinetista que tocava "Chariots of Fire" (o cara lembrava o “Gengivas Sangrentas” dos Simpsons), o corpo se recuperou e começou a (cor)responder satisfatoriamente aos comandos do cérebro. Daí para o Km 21 cheguei pela inércia do movimento.
Missão cumprida e coooooomprida. Rio, I´ll see ya next year, for sure!!!
P.S. Como diria o padre Quevedo, sinal vermelho é uma coisa que não existe (pronuncia-se "ekziste", no Rio). Os motoristas simplesmente o ignoram.
P.S. II: Dias depois, voltei a participar de outra prova. Desta vez foi a maratona de revezamento Pão-de-Açúcar. A escrita se repetiu. Na véspera da corrida comi uns acarajés irados, patrocinados pelo casal soteropólito-paulista Eugênio/dona Marly e pelo anfitrião Cássio-Arrelia. O desempenho na corrida? Sem comentários!
Contagem regressiva. Quinta-feira, 02 de setembro. Comecei o dia comendo um enorme e calórico pastel especial – aquele que tem até ovo cozido dentro, uma metade em cada banda. Na sexta, dia 03, vasculhando a geladeira, deparei-me com uma pizza de pepperoni. Para acompanhar, nada melhor do que o Santa Ana, aquele vinho argentino que custa por volta de R$ 6,90 no Extra. Atualmente a melhor relação custo-benefício dentre os vinhos importados. Bom, a corrida seria só no domingo. Uma pedaço de pizza não faria mal algum. Afinal eu ainda teria o sábado para me recuperar.
Sábado, 04 de setembro de 2004, 7:11h. Chego ao Rio, o tempo estava meio encoberto, sujeito a chuvas e trovoadas. Algumas coisas no Rio soam estranhas para um paulista. É um misto de descontração que às vezes descamba para a informalidade exagerada. Exemplo, perguntei no terminal se o ônibus estacionado passava pelo aterro do Flamengo. O motorista respondeu que iria perguntar ao fiscal. Ou seja, dependendo de algumas conjecturas do trânsito, os itinerários dos ônibus são alterados. Isto lembra-me o princípio da incerteza de Heinseberg (Atomística, Química, lembra?). Não é possível determinar, com a exatidão, a posição do elétron no átomo. Naquela não-linha de ônibus, não é possível determinar onde ele pode estar na cidade. Enfim, o fiscal definiu o trajeto e, para a minha sorte, incluía o aterro do Flamengo, local da minha estadia, a casa da Patrícia e da sua filha, a Priscila, que agora conta com os seus doces e indeléveis 17 aninhos. Aliás, ela é a minha melhor amiga de 17 anos, que mora no Rio.
Fui apresentado ao Marco, o namorado da Patríca, que é do País de Gales (esqueci de perguntar qual a nacionalidade de quem nasce lá! Galês? Não, acho que não. Galês deve ser da Galícia. Galeano? Não, este foi um jogador do Palmeiras). Gente boa o cara. Senso de amor sutil, inteligente e impiedoso, típico dos britânicos. E mais, ele manda muito bem na cozinha. Eu iria manerar na alimentação. Mas, o meu intento não resistiu a uma sensacional comidinha caseira, incrementada com uma receita de legumes ao forno simples e deliciosa. E para completar, regado a um legítimo chileno Concha Y Toro, o meu vinho favorito. Sensacional!
E a dieta pré-corrida, onde ficou nesta história? Calma, eu ainda teria a tarde e a noite para me recuperar. Aí começou o meu drama silencioso: uma revolução químico-estomacal desarranjou o meu sistema digestivo. Como assim? Só pode ter sido aquela pera que eu comi depois do almoço. Não me caiu bem. Decidi que ficaria só a base de bolacha (no Rio eles falam biscoito) e sucos.
Gentilmente, a Pri-17-RJ foi dormir com a sua mamãe e ofereceu o seu quarto para eu dormir. Adoro quarto de adolescentes-meninas. Cheios de artefatos, almofadas transadas, bichinhos fofinhos, cores e mais cores. Apaguei as luzes e assim que me deitei, um céu estrelado acendeu no teto. Explico, o quarto é ornamentado com aqueles decalques fosforescentes em formas astrais, que refletem luz e brilham no escuro.
Domingo, 05 de setembro de 2004, 7:07h, dia de corrida. Que noite agradável foi aquela! Sonhei muito! Só que não lembrei de nada. A sensação é de que foram sonhos intensos, grandiosos, com tramas dignas de um filme épico. É chegada a hora de ir para São Conrado, local de largada. Encontrei o Luis Augusto, companheiro de algumas caminhadas, que estava fazendo um tour com a namorada (fotógrafa de plantão, a doce Raquel) e, de quebra, havia se inscrito na corrida . Aqui cabe um parênteses. O L.A é uma figura à parte. Sem preparação específica, ele vai lá e corre. Deste jeito, digamos, heterodóxico, ele já acumula no curriculum duas maratonas completadas e outras meias-maratonas. Se em alguns trechos ele cansa, pára até se recuperar e volta a correr, no ritmo dele, sem stress. Mais que uma estratégia de corrida, este jeito tranquilo de encarar uma situação se revela um estilo de vila.
O clima estava meio cinzento, como no dia anterior. Incrível! E não é que a meteorologia acertou de novo? Como previsto, o sol abriu e sorriu para o Rio. Começa a corrida. Para nós, os 99,7% participantes-coadjuvantes, a corrida começa efetivamente uns 10, 15 minutos depois. Em tempos de internet, emparelhei lado a lado com uma bela moça malhada, desfilando na avenida a beira-mar o seu iPod super fashion.
Quanto à minha performance, paguei pela boca . Flatulento, nos primeiros 7,57 Km, segui num ritmo leve. Até os 15,37 Km eu fui pianinho, percebendo que abusara na alimentação. A partir do Km 18,11 as pernas gradativamente começaram a me faltar. O que fazer? Glicose na veia, ou melhor, Hershey´s na boca. Diante daquele céu azul, o céu da minha boca, adocicado pelo chocalate, me manteve ativo. Paulatinamente (adoro este advérbio) começo a ressurgir das cinzas e, impulsionado por um clarinetista que tocava "Chariots of Fire" (o cara lembrava o “Gengivas Sangrentas” dos Simpsons), o corpo se recuperou e começou a (cor)responder satisfatoriamente aos comandos do cérebro. Daí para o Km 21 cheguei pela inércia do movimento.
Missão cumprida e coooooomprida. Rio, I´ll see ya next year, for sure!!!
P.S. Como diria o padre Quevedo, sinal vermelho é uma coisa que não existe (pronuncia-se "ekziste", no Rio). Os motoristas simplesmente o ignoram.
P.S. II: Dias depois, voltei a participar de outra prova. Desta vez foi a maratona de revezamento Pão-de-Açúcar. A escrita se repetiu. Na véspera da corrida comi uns acarajés irados, patrocinados pelo casal soteropólito-paulista Eugênio/dona Marly e pelo anfitrião Cássio-Arrelia. O desempenho na corrida? Sem comentários!
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