Crying - Pela volta das canções românticas no rádio
Esqueceram de avisar o cameraman que o programa já estava no ar.
Meio desnorteado, ele aponta o instrumento (câmera) em várias direções,
até finalmente encontrar o Roy Orbison, aos 45 segundos de música rolando
Pode parecer conflito
de gerações. Afinal, já rompi a barreira dos 40 (rumo aos 45). Mas é curioso como nos
dias de hoje, nem de longe se faz música pop romântica, daquelas que tocam
incessantemente no rádio, como antes. Nem em quantidade, menos ainda em qualidade. Atualmente ,
as pobres e cruas batidas do rap e da música eletrônica, ditam o pop de uma
nota só.
Em oposição (good
transiction, diria Mr. Willie), no século XX, um sem-número de canções
melosas abundava aos borbotões (rara palavra) nos Hit Parades radiofônicos. Sim, músicas babas, por
vezes pegajosas, piegas, porém docemente belas. Em pouco mais de 3, 4
minutos, cabiam, inclusive, lindos arranjos de cordas e sopros. Coisa
finíssima! Para perceber a riqueza melódica daquela época, basta ouvir uma
destas coletâneas The Very
Best of Elton John ou The Greatest Hits of Carpenters.
Independentemente do estilo musical em voga, sempre havia uma vertente romântica, fosse rock (Kiss gravou Forever), disco (Bee Gees gravou How Deep Is Your Love), black (Earth, Wind & Fire gravou After The Love Has Gone), pop farofa (No Doubt gravou Don´t Speak – by the way, eu pago móu pau pra Gwen Stefani), etc.
Independentemente do estilo musical em voga, sempre havia uma vertente romântica, fosse rock (Kiss gravou Forever), disco (Bee Gees gravou How Deep Is Your Love), black (Earth, Wind & Fire gravou After The Love Has Gone), pop farofa (No Doubt gravou Don´t Speak – by the way, eu pago móu pau pra Gwen Stefani), etc.
Estaria o mundo, no
século XXI, se embrutecendo? Mas os brutos, e os metaleiros, também amam, sim
senhor(a)! Por que, então, não há mais espaço para singelas canções de amor?
Como cantou a banda Gorillazz, lá nos idos dos anos ‘00’, the world is spinning too fast (o mundo está girando muito rápido).
Quiçá (boa conjunção, no contexto!), a aceleração dos tempos modernos teria
contaminado também a música. Aliás, o verbo associado vem mudando. Antes se
ouvia música; hoje se consome.
Ora bolas, mas de onde
vem esta minha inquietação sócio-radiofônico-cronológico-musical? Foi assim ...
Siderado em
informação, um dos poucos momentos que consigo pressionar um hipotético botão
‘OFF’ mental, é quando estou na província de Santos. Sem afiliadas da CBN e Bandnews
FM na região, giro o dial em
busca de músicas, enquanto dou de comer às minhocas vermelhas californianas e
cato amoras no pé. Na Classic
Hits, rola Uma Mensagem de
Amor, na voz do Léo Jaime (sax de responsa). Noutro giro, o Dárcio Arruda
anuncia, no programa Jet Flash
(alusão ao slogan Jet Music,
da rádio Difusora), a música Crying, na regravação do Don
Mclean (de American Pie,
regravada pela Madonna) para um clássico do Roy Orbison.
PQP! Eu quero mais
disto, pensei. É muito bom! Já de volta à metrópole, vim conferir aqui na rede.
E qual não foi a minha surpresa? Ao me deixar ouvir a Crying original-de-fábrica, meu mundo
interior parou no tempo da canção, que se revelou ainda mais passional:
desmedidamente terna, desmesuradamente clamorosa (ah! como eu gosto do sufixo
‘des’, formando advérbios de modo!), redundantemente chorosa, esplendorosamente
linda. Além da melodia, o poder da canção reside nos versos curtos, simples e
cortantes, finalizados com rimas ricas (palavras de classes gramaticais
diferentes, tipo-assim, substantivo com advérbio, verbo com adjetivo, etc). Por
exemplo ...
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Smile /
while
(sorriso / enquanto)
Night /
tight
(noite / forte)
Well /
tell
(bem / contar)
More /
Before (mais / antes)
Understand / hand (entender
/ mão)
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E o que dizer sobre a
estrofe abaixo, eleita pelo júri da Mauro
Jorge Records uma das
melhores da letra?
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I love you even more (Eu
te amo ainda mais)
Than I did before (Do
que antes)
But darling, what can I
do? (Mas querida, o que eu posso fazer?)
For you don’t love
me (Pois você não me ama)
And I’ll always be crying over
you (E eu sempre estarei chorando por você)
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Tadinho! O cara tava
desconsolado.
Nos versos finais, o
macho desaba de vez e agoniza em praça pública, ou melhor, em canção popular,
como que um lobo uivando (youuuuu) de dor para a lua cheia, singrando (com ‘i’
mesmo, do verbo singrar) o céu com o seu falsete. Em consonância, a parte
instrumental aumenta em dramaticidade com o bumbo da bateria num crescente,
acompanhado de um coro dilacerante, em uníssono com os violinos, emulando
(viagem da minha cabeça) a imagem de um cortejo marcial ...
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Yes, now you’re gone (Sim, agora você se
foi)
And from this moment
on, (E a partir desse momento)
I’ll be crying, crying, crying,
crying (Eu estarei chorando,
chorando, chorando, chorando)
Yeah, crying, crying over you (Sim,
chorando, chorando por você)
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Lindo! Lindo! Lindo!
Cara, o que é isso?
Parafraseando sir Paul
McCartney, mestre dos mestres, apenas mais uma da série ‘canções de amor bobas’. Como ele próprio canta
em Silly Love Songs : “E o que há de errado nisso?” (And
what's wrong with that?)
Viva as canções
românticas!
Viva Roy Orbison!
Viva Paul McCartney
E viva Zapata!!!
Lembrando o seriado do (flácido) Batman, dos anos 60,
TO BE CONTINUED ...
PS: caro(a) internauta, perdoe-me pelo abuso no uso do recurso metalanguístico narrativo (diga-se, autoreferencido e reafirmado neste parêntesis deste PS). Foi irresistível e incontrolável. Eu precisava!
Lembrando o seriado do (flácido) Batman, dos anos 60,
TO BE CONTINUED ...
PS: caro(a) internauta, perdoe-me pelo abuso no uso do recurso metalanguístico narrativo (diga-se, autoreferencido e reafirmado neste parêntesis deste PS). Foi irresistível e incontrolável. Eu precisava!
1 Comentários:
Às 1:44 PM ,
F.I.O.N.A. disse...
Marcos! qué sorpresa tan agradável! Vc é um baita de um escritor. E ainda amante da música. Parabéns. E muito obrigada pela sua revelação! Adorei. Beijo
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