Marcos Pereira on-line

10 fevereiro 2007

Indignação, indigna. Indigna nação.

Ontem choveu muito em São Paulo. Aparentemente normal. Janeiro é assim mesmo. São as chamadas chuvas de verão. Mas a chuva de ontem, uma quinta-feira, tinha algo de diferente. Ela não cessou rapidamente; fato incomum para estas pancadas intensas, porém breves. Começou à tarde e se estendeu noite adentro. Inacreditavelmente eu portava um paraguas. Sei lá por que, não quis abri-lo, mesmo com aquela voz materna, lá no fundinho do pensamento advertindo ‘menino, você vai pegar um resfriado’.

Antes de ir ao SESC para ver mais uma sensacional apresentação da Cia. Nova Dança 4, acompanhada do Steve Paxton, o guru do contato-improvisação, passei em casa para sacudir a cabeleira (?) e secar o meu corpinho marrom-bombom. Liguei a TV e a manchete principal dos jornais da noite era o assassinato brutal de um menino de 6 anos, no Rio de Janeiro. Durante o roubo do carro de sua família, o João Hélio foi arrastado por 7 Km do lado de fora, preso ao cinto de segurança. E segurança, ou melhor, a falta dela, é justamente o que, em última instância, levou a este crime bárbaro.

Estranho é que de manhã eu ouvi a notícia no Repórter CBN. Não acreditei; achei que tinha interpretado errado. Em pleno século XXI é no mínimo impensável tamanha violência gratuita. Aguardei para saber mais detalhes depois. À noite, veio a confirmação. Infelizmente a notícia era real.

De longe, este episódio me lembrou as aulas de História do Brasil da fêssora Alzira Rosa, na 6ª série B. No Brasil-colonia, grupos pró-emancipação promoveram levantes com o objetivo de libertar a colonia do domínio da coroa portuguesa. Quando descobertos, os responsáveis eram mortos cruelmente. Tiradentes foi enforcado em praça pública. Outros - lembro apenas da história e não dos personagens - eram amarrados a cavalos e arrastados pela cidade para servirem de exemplo.

Eles ao menos eram julgados pelo crime de insurreição ao regime vigente. Ao menino João Hélio não houve sequer o menor motivo que justificasse tamanha barbaridade.

Ontem eu chorei. Foi um choro impotente, revoltado, angustiado e indignado. Com certeza, muita gente chorou.
E não estávamos sozinhos.
A quinta-feira, através da chuva de verão torrencial, também chorou.
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P.S. indignado

Claro que um crime destes mexe com qualquer um.
Eu só me preocupo com o espírito justiceiro que se apodera das pessoas nestes momentos de comoção generalizada. Diminuição da maioridade penal, pena de morte, tudo isto deve ser discutido, concordando ou não. Afinal, a impunidade é um dos maiores problemas do Brasil. Mas o debate é mais amplo e não deve se restringir apenas ao caso do menino João Hélio.

P.S. indignado II

Sintomaticamente, nestes dias saiu o resultado do ENEM, exame que avalia os estudantes do ensino médio. Resultado: as notas caíram. As autoridades públicas ainda não entenderam (ou não querem) que qualquer projeto de crescimento passa pela educação. Nenhum ‘PAC que o (presidente) pariu’ se sustenta a médio e longo prazo sem investimento em infra-estrutura e na área social, principalmente educação. E a educação deve ser entendida num sentido mais amplo, incluindo conceitos de cidadania e meio ambiente. Por favor, nada a ver com a babaquice radical tipo Greenpeace. De xiitas radicais, já bastam os do PT. Pode-se começar com coisinhas simples, tais como seleção de lixo reciclável e respeito ao pedestre no trânsito. Quem sabe deixamos de ser bárbaros (de barbárie) e voltamos a ser seres civilizados?

P.S. momento-Maguila

Um abraço para a minha melhor amiga de 20 anos e para o meu melhor afro-amigão, que moram no Rio.

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