São Silvestre 2007 - encontro casual comigo mesmo 20 anos depois
Até o fim da Paulista, a massa humana de corredores se movia compacta, quase inerte. No final da avenida, saída pela direita, início do descidão da Consolação, outrora subida. Chego, então, ao cruzamento mais famoso da metrópole, eternizado em verso e prosa pelo cancioneiro baiano: av. Ipiranga X São João. Logo adiante, minhocão à vista. E dá-lhe asfalto. E dá-lhe subida. E dá-lhe calor.
Embora em condições anormais de temperatura e pressão, consegui imprimir um ritmo cadenciado, firme, de intensidade moderada, sem perder o foco num provável final extenuante. Fisicamente, tudo transcorria às mil maravilhas. Até que, na altura do viaduto Pacaembu, eu embarquei num túnel do tempo. Visualizei um rapaz franzino, que correu a São Silvestre em 1987. Era eu encontrando comigo mesmo 20 anos mais moço. Contextualizando, a “SS” daquela época era outra; foi o último ano em que o evento se realizou horas antes da virada, às portas do ano novo. E a famigerada subida no final se dava pela rua da Consolação. Hoje, a chegada é via Brigadeiro Luiz Antonio.
Naquele momento do encontro, senti um aperto no coração. Um misto de gratidão e culpa. Gratidão porque eu devo muito àquele “eu – 20” a determinação e perseverança que me trouxeram até aqui.
Culpa por eu ter traído alguns ideais de vida. Claro que muitos deles inocentes e utópicos, típicos devaneios de um jovem rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso e vindo do litoral. À época, eu registrava altíssimos 93,715 graus na escala DiPaula (vai de 0 a 100), que mede a intensidade de idealismo comuna. Desculpe, cara! Foi mal! A culpa é coletiva. A culpa é do sistema, companheiro!.
Sobre a corrida, ganhei mais uma medalha de participação para a coleção – daqui a pouco vou precisar de um salão para abrigar as medalhas participativas.
Entretanto, todavia, contudo, mas, porém (e outras conjunções adversativas que me fogem), mais difícil do que a prova, foi o resgate do meu afro-amigo-descendente-fluminense Beto Digão. O badaladíssimo vocalista-performer da promissora banda de pagode ‘Embala Samba’ não compareceu ao encontro marcado em frente à FNAC da Paulista, combinado para depois da corrida. Enquanto eu viajava no túnel do tempo, ele atravessou a fronteira do espaço-tempo e se teletransportou para a Brigadeiro na esquina com a rua Tutóia. É, amigo! O ministério da saúde adverte: substâncias etílicas e fermentadas produzem efeitos que desafiam até as leis da física! No mínimo, a organização da “SS” poderia me conceder uma medalha de bônus por ter subido a Brigadeiro até a Paulista pelos dois lados (centro e Jardins).
Concluindo, deputado(a), no ano em que se comemorou a efeméride do cinquentenário do clássico ‘Encontro Marcado’ (Fernando Sabino), um clássico da literatura brasileira, eu tive um ‘encontro casual’. Ao contrário do livro, o encontro não foi agendado com amigos. Foi casual, atemporal e comigo mesmo. Doeu um pouquinho, mas foi gostoso. Sinal de que a anestesia emotiva dos dias de hoje pode ser quebrada por pequenas (ou médias ou grandes, ou não!) catarses. Oooohhhh!
Finalizando de vez, a nível de baianidade nagô, como compôs lindamente Caetano, o Veloso:
“Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo.“
PS. A imagem mais representativa e emblemática da corrida aponta - não de um iceberg, como na música do Jay Vacquer - do viaduto Brigadeiro Luiz Antonio. Lá, bem no início do fim (Km 12 do total de 15), se avistava um mar de gente multicolorida, multiracial e multifacetada. Enfim, a cara de São Paulo. Oooohhhh!
Embora em condições anormais de temperatura e pressão, consegui imprimir um ritmo cadenciado, firme, de intensidade moderada, sem perder o foco num provável final extenuante. Fisicamente, tudo transcorria às mil maravilhas. Até que, na altura do viaduto Pacaembu, eu embarquei num túnel do tempo. Visualizei um rapaz franzino, que correu a São Silvestre em 1987. Era eu encontrando comigo mesmo 20 anos mais moço. Contextualizando, a “SS” daquela época era outra; foi o último ano em que o evento se realizou horas antes da virada, às portas do ano novo. E a famigerada subida no final se dava pela rua da Consolação. Hoje, a chegada é via Brigadeiro Luiz Antonio.
Naquele momento do encontro, senti um aperto no coração. Um misto de gratidão e culpa. Gratidão porque eu devo muito àquele “eu – 20” a determinação e perseverança que me trouxeram até aqui.
Culpa por eu ter traído alguns ideais de vida. Claro que muitos deles inocentes e utópicos, típicos devaneios de um jovem rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso e vindo do litoral. À época, eu registrava altíssimos 93,715 graus na escala DiPaula (vai de 0 a 100), que mede a intensidade de idealismo comuna. Desculpe, cara! Foi mal! A culpa é coletiva. A culpa é do sistema, companheiro!.
Sobre a corrida, ganhei mais uma medalha de participação para a coleção – daqui a pouco vou precisar de um salão para abrigar as medalhas participativas.
Entretanto, todavia, contudo, mas, porém (e outras conjunções adversativas que me fogem), mais difícil do que a prova, foi o resgate do meu afro-amigo-descendente-fluminense Beto Digão. O badaladíssimo vocalista-performer da promissora banda de pagode ‘Embala Samba’ não compareceu ao encontro marcado em frente à FNAC da Paulista, combinado para depois da corrida. Enquanto eu viajava no túnel do tempo, ele atravessou a fronteira do espaço-tempo e se teletransportou para a Brigadeiro na esquina com a rua Tutóia. É, amigo! O ministério da saúde adverte: substâncias etílicas e fermentadas produzem efeitos que desafiam até as leis da física! No mínimo, a organização da “SS” poderia me conceder uma medalha de bônus por ter subido a Brigadeiro até a Paulista pelos dois lados (centro e Jardins).
Concluindo, deputado(a), no ano em que se comemorou a efeméride do cinquentenário do clássico ‘Encontro Marcado’ (Fernando Sabino), um clássico da literatura brasileira, eu tive um ‘encontro casual’. Ao contrário do livro, o encontro não foi agendado com amigos. Foi casual, atemporal e comigo mesmo. Doeu um pouquinho, mas foi gostoso. Sinal de que a anestesia emotiva dos dias de hoje pode ser quebrada por pequenas (ou médias ou grandes, ou não!) catarses. Oooohhhh!
Finalizando de vez, a nível de baianidade nagô, como compôs lindamente Caetano, o Veloso:
“Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo.“
PS. A imagem mais representativa e emblemática da corrida aponta - não de um iceberg, como na música do Jay Vacquer - do viaduto Brigadeiro Luiz Antonio. Lá, bem no início do fim (Km 12 do total de 15), se avistava um mar de gente multicolorida, multiracial e multifacetada. Enfim, a cara de São Paulo. Oooohhhh!
1 Comentários:
Às 2:45 PM ,
Anônimo disse...
"Sem São Paulo
O meu dono é a solidão"
(Ari Baltazar)
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