Marcos Pereira on-line

04 março 2007

Saigo, você é o meu herói!

Cartas de Iwo Jima é um filme sobre um episódio ocorrido na II Guerra Mundial. A princípio, parecia ser mais um filme da categoria de guerra. O diferencial deste, é que a história é contada pelo lado normalmente chamado de inimigo: os japoneses. Fui assistir meio que para cumprir a minha obrigação de aprendiz de cinéfilo. Digamos que até a metade, muitas bombas ‘explodem’ pelo cinema – culpa do eficiente, porém barulhento, sistema Dolby Surround!. Ainda assim, o japonesinho Saigo fazia o controponto com algumas graças e segurava a onda, em meio aquele quadro dantesco de guerra.

O filme cresce em dramaticidade quando, paulatinamente (adoro este advérbio de modo, não me canso de repetir), as histórias dos personagens são descortinadas por meio de flashbacks. O Saigo, por exemplo, é um destes anônimos da guerra. Um cidadão comum que é convocado a defender a sua nação da ameaça inimiga. Como o próprio se define, ele não é um soldado. É apenas um padeiro, numa causa que não é sua e que ele não compreende muito bem o sentido. E por aí vai.

Tem também as histórias dos comandantes de tropas: um equitador campeão olímpico e um oficial de carreira. Ambos tiveram contato com a cultura ocidental. Eles cumprem o dever de defender a pátria japonesa sem, no entanto, negar as virtudes da sociedade inimiga, no caso, a americana.

E é justamente na desmistificação de alguns valores, tidos como irrefutáveis, que está o ponto alto do filme. Mesmo entre os japoneses, conhecidos pela conduta super rígida e disciplinada, há espaço para comportamentos menos autômatos e para a manifestação de sentimentos mais humanos. A rendição ao inimigo, por exemplo, poderia ser considerado um ato de covardia. E, afinal, o que é covardia? Trair a pátria para retornar ao lar e conhecer a filha recém-nascida, como no caso do Saigo? Ser feliz?

Desta vez, o Clint Eastwood acertou a mão em cheio. Depois daquele engodo melodramático intitulado ‘Menina de Ouro’, ele se redimiu e surpreendeu. Pena que desta vez não convenceu a academia de Hollywood. Preferiram fazer ‘justiça’ e premiar com os Oscars de melhor filme e diretor o, até então, preterido Martin Scorcese. Business, nothing more than business, meus caros!

Na semana que vem, vou fazer a lição de casa complementar e assistir ‘A Conquista da Honra’, a versão dos fatos sob a ótica dos americanos.

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PS ‘Soldados’
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‘(...) Quem é o inimigo?
Quem é você?
Nos defendemos tanto tanto sem saber
Porque lutar (...) ‘ - Legião Urbana
PS ‘The War’
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‘(...) War war is stupid
And people are stupid
And love means nothing
In some strange quarters (…) ‘ – Culture Club

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