Marcos Pereira on-line

09 abril 2014

Ela partiu


Nossa convivência durou aproximadamente 1 ano e meio.

Inicialmente, resisti à ideia de compartilhar meu habitat com outro ser vivo do reino animal. Há tempos desacostumei a dividir o mesmo espaço. Pensando bem, talvez nunca tenha me acostumado.

Enfim, por não necessitar de tantos cuidados, aceitei o desafio e ela veio morar comigo.

Entre nós, de início, estabeleceu-se uma relação amistosa: ela no seu meio aquoso e eu aqui, do lado de fora, vivendo num mundo-bolha. Com o tempo, começamos a interagir. Passamos a conversar oral e telepaticamente, enquanto afagava com leves 'guti-guti's seu dorso levemente escamoso.

Ela representava um sopro de vida, numa realidade virtual e material. Não pedia nada em troca. Não reclamava.
Apenas assentia ao meu olhar com seu balé, literalmente aquático.

Ela me fez sentir útil.
Ela me fez sentir.
Ela deu sentido.
Ela fez sentido.

Ela se foi.
Ela partiu.
E um pedaço de mim ruiu, se partiu.

Gloob-bye, Blush!

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P.S.

A moça da faxina deixou uma listinha de compras de produtos de limpeza. Ao final, escreveu: "senti falta do peixe, você levou embora?". Sem dúvida alguma, naquela mesa tá faltando ela. 

P.S. II.

O não-tempo em que vivemos dificulta, inclusive, a vivência e consumação da dor e do luto. Como escreveu o poeta: "Navegar é preciso, viver não é  preciso".

P.S. III.

Diretamente do podcast do programa Ronca-Ronca, emerge  "Message In a Bottle", do Police.  Canção certa, na hora certa, no lugar certo.  Canção redentora.

Encho o peito e canto com o Sting, na Paulista: "I'll send an SOS to the world / I hope that someone gets my message in a bottle".

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