Marcos Pereira on-line

26 janeiro 2005

Eu não gosto de São Paulo. Eu gosto de São Paulo

Agora que já passou o efeito devastador do sanduíche de mortadela do Mercadão, dá pra escrever um pouquinho sobre a cidade no dia do seu aniversário.

Abaixo, um breve histórico da minha história em São Paulo:

1968 --- 1986 - salvo-condutos esporádicos, geralmente nas férias
1987 --- 1987 - salvo-conduto para permanecer durante um ano, como estagiário
1989 --- 1990 - salvo-conduto como estudante
1991 --- 1993 - salvo-conduto profissional
1993 --- hoje - salvo-conduto permanente. Optei por morar aqui e obtive um “grey card” .

O que escrever sobre São Paulo?
Numa cidade repleta de contrastes, arrisco uma declaração de amor meio torta, recheada de antíteses.

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Eu não gosto de São Paulo. Eu gosto de São Paulo

Eu não gosto da São Paulo da movimentada avenida Ipiranga.
Eu gosto da São Paulo da movimentada avenida Paulista.

Eu não gosto da São Paulo da aglomeração das ruas do centrão.
Eu gosto da São Paulo das largas e arborizadas ruas de Higienópolis.

Eu não gosto da São Paulo das enormes filas dos cinemas, nos fins-de-semana.
Eu gosto da São Paulo da calmaria do centrão, nos fins-de-semana.

Eu não gosto da São Paulo dos barzinhos que tocam Djavan.
Eu gosto da São Paulo das festas do Garagem.

Eu não gosto da São Paulo do excesso de papo-cabecismo do Espaço Unibanco.
Eu gosto da São Paulo do despojamento descolado do Sesc Pompéia.

Eu não gosto da São Paulo travestida de “mudernidade”.
Eu gosto da São Paulo despida, de vanguarda.

Eu não gosto da São Paulo dos boletins de trânsito óbvios.
Eu gosto da São Paulo da funcionalidade do metrô.

Eu não gosto da São Paulo apolipticamente diluviosa.
Eu gosto da São Paulo melancólica, da garoa.

Eu não gosto da São Paulo da artificialidade do parque do Ibirapuera.
Eu gosto da São Paulo da simplicidade da praça do Por-do-Sol.

Eu não gosto da São Paulo da impessoalidade dos fast-foods.
Eu gosto da São Paulo do calor humano das padocas.

Eu não gosto da São Paulo das distâncias que afastam as pessoas.
Eu gosto da São Paulo dos acasos que aproximam as pessoas.

Eu gosto de São Paulo para sair dela.
Eu gosto de São Paulo para voltar para ela.

Eu não gosto de São Paulo.
Eu gosto de São Paulo.

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P.S.: Ora bolas! Que raio é este tal “salvo-conduto”. A resposta está no filme “Código 46”, em cartaz nos cinemas. Numa escala de 0 a 5, eu dou uma nota 2,73. O filme é pretensioso, mas é apenas legalzinho.


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