Virada Paulista 2014. Virando o vinil. O sol brilhou

O palco temático "Vinil", da Virada Cultural 2014, versou sobre álbuns antológicos, lançados originalmente em vinil. Entre vários clássicos (“Gita”, “The Dark Side of the Moon”, etc), eu me programei para assistir o Rômulo Fróes e o Curumin interpretarem “Transa” e “Still Bill”, respectivamente.  

Por pouco a localização do palco não foi o famoso cruzamento eternizado pelo ícone baiano:  Ipiranga x São João. Foi montado um pouco abaixo, na Ipiranga x Rio Branco. Mas, o artista baiano esteve (muito bem) representado por um dos novos emergentes da (nem tão nova) cena paulistana de músicos alternativo-colaborativos.

Lançado em 1972, o álbum “Transa” foi gravado quando os velhos baianos habitavam Londres, durante o exílio político. Talvez por isso, exista ali, registrado nas ondas musicais, um sentimento de banzo, como se todos estivessem reunidos numa grande jam session para celebrar a brasilidade além-mar.  

Cheguei atrasado, já no no final da 3ª música do lado "A", "Triste Bahia". Pena! Infelizmente, perdi "You don´t know me", música que contém sen-sa-cio-nais   citações a algumas maravilhas da música brasileira  (“Reza” -  Edu Lobo, “Maria Moita” - Vinicíus de Moraes e Carlos Lira, “Hora do Adeus” - Luiz Gonzaga e “Saudosismo” – Caetano Veloso se auto-referenciando). Virando para o lado "B", a melhor interpretação do Rômulo:  "Mora na Filosofia"; doçura agônica no gogó do cantor; lirismo puro. Diz a letra: “pra que rimar amor e dor".

Depois de um rolezinho pela virada, retornei pontualmente às 15h01 ao palco Vinil para assistir e ouvir, de cabo a rabo,  "Still Bill".  Parêntesis: ouvindo o álbum me dei conta de como o Bill Whiters é um grande hitmaker, embora não tenha o devido e merecido reconhecimento. Neste ponto, ele é uma espécie de Roy Orbison da música negra.  

Voltando ao palco, e dá-lhe Curumin, o baterista onipresente no palco Vinil. Ele tocou na apresentação do "Transa", no "Still Bill" e tocaria no "Cath a Fire" (Bob Marley), se a chuva deixasse. Parece super do bem, do tipo com quem eu puxaria conversa no boteco (não costumo fazer isso). Como instrumentista (palpito, não sou do ramo), toca seu instrumento de forma simples e ao mesmo tempo poderosa, com muito swing, vigor e malemolência. Ora, ora, ora! Afinal, pra que maneirismos performáticos? O que importa é a emoção. E neste quesito, o Curumin é “o” cara.

A apresentação terminou com um bonus track que não integra o álbum "Still Bill", a clássica "Ain´t no Sunshine". Naquele instante, por detrás do palco, um delicioso sol de outono brilhava. Contrariando (quem sou eu), a lindíssima balada, sim Bill, o sol brilha, mesmo quando ela se vai (“Ain´t no sunshine / when she´s gone). O sol brilha quando há músicas tão belas, capazes de suspender o tempo nos minutos da canção. Ninguém queria que ela acabasse ... I know, I know, I know,  I know, I know, I know, I know,  I know, I know, I know, I know,  I know, I know,  I know, I know, I know, I know,  I know, I know, I know, I know, I know,  I know, ...

Foi massa!

Que venha a próxima virada!

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P.S.: "Transa" é um dos meus álbuns top 3 nacionais de todos os tempos, ao lado de "A Via Láctea", do Lô Borges. O terceiro deve ser o primeiro do “Secos & Molhados”. Preciso pensar a respeito.

P.S. II:  apenas uma observação de cunho estatístico. Percebi uma grande quantidade de casais de meninas.  E viva a diversidade! E viva a pluralidade!

PS III: cardápio viradão: pão com ovo mexido + queijo parmesão, acarajé, curau, suco de milho, chips de banana. Opções simples e deliciosas, como a vida deve ser.