Marcos Pereira on-line

27 janeiro 2005

Excelsior, a Máquina do Som. O Passado de Presente pra Você

O objeto deste texto inicialmente seria o CD temático que estou criando, inspirado no programete “2 Tempos”, que foi ao ar na extinta rádio Excelsior AM, “a máquina do som” lá nos idos dos anos 70. Funcionava assim: quando havia um lançamento musical, eles programavam um sucesso antigo e o lançamento em questão. Sacou? O meu CD “2 Tempos” é um pouco diferente. Nele, a idéia é gravar várias pastas de MP3, com a versão original e a regravação. Por exemplo, nem todos sabem que a versão original de “Don´t Let Me Be Misunderstood” é do Animals. Porém, a música estourou nas paradas no auge da disco-music, numa versão disco-flamenca do Santa Esmeralda.

Daí, Excelsior me lembrou a minha prima Regina (filha do tio Mané, mãe do Figgipi-Andrrgè) e eu lembrei que hoje é o aniversário dela. Qual a relação Excelsior-Regina? Para mim, foi decisiva. Fui iniciado e crescido no mundo pop através das duas. Então, senta que lá vem história ...

Houve um tempo em que o FM era sinônimo de música de elevador e de sala de espera em consultórios. Poucos aparelhos traziam esta faixa de freqüência. O rádio, como veículo de massa, se restringia às emissoras de AM. No lugar das atuais redes de rádio via-satélite, a transmissão se dava em ondas médias e curtas. Via de regra, as rádios AM se dividiam em jornalísticas e populares (acho que ainda é assim). Quem não tem na família uma mãe, tia, tio, avô ou avó que ouvia Gil Gomes, Eli Correa (oi, gente!) ou Zé Bétio, que atire o primeiro rádio.

Paralelamente, nos anos 70, duas emissoras, ainda em AM, romperam com este padrão, criando uma programação totalmente direcionada para o público jovem: Excelsior (780 Khz) e Difusora (960 Khz). A Excelsior pertencia às Organizações Globo, enquanto a Difusora, aos ‘Diários Associados’, o grupo concorrente que tinha à frente a Tupi, primeira emissora de TV da América do Sul.

Muito mais que um mero slogan, “Excelsior, a Máquina do Som” se tornou uma marca, um rótulo fantasioso. Os programas mais emblemáticos da Excelsior eram o “Pediu, Tocou, Ganhou” e o “Peça Bis Para o Sucesso”.

O “Pediu, Tocou, Ganhou” era apresentado em duas edições. A primeira das 8:00 às 10:00 e a segunda, das 12:00 às 14:00h. Como os verbos sugerem, o ouvinte pedia a sua música por carta, a música tocava e ele ganhava uma fita cassete com a música pedida.

O “Peça Bis Para o Sucesso” entrava no ar encaixado entre as duas edições do “Pediu, Tocou, Ganhou”. Das 10:00 às 11:00h eram apresentadas 14 músicas, cada uma identificada por uma cor. O ouvinte ligava e escolhia pela cor. As 7 mais votadas voltavam às 11:30h. Entre as 14, havia algumas músicas-destaque, cada uma anunciada por uma vinheta especial. Deste modo, “Flashback” introduzia uma música do passado, “Rock Time”, um roquinho e a “Parada US TOP”, um sucesso de uma revista musical americana (normalmente Billboard e Cashbox). Exemplo de músicas-destaque: “Flashback – The Ballad of John And Yoko – Beatles. “Rock Time – The Logical Song – Supertramp”. “Parada US TOP – Ring My Bell – Anita Ward”. Às 11:00h, durante a apuração, o “2 Tempos” era levado ao ar. Um “2 Tempos” bem legal que me vem à mente foi com o Paul McCartney & Wings. A antiga, “My Love” e a “nova” “Goodnight Tonight”. Depois foi criada a segunda edição do “Peça Bis”, das 17:00 às 19:00h. O legal é que os programadores alternavam as naturais candidatas ao primeiro lugar em dias diferentes. Por exemplo, “Love Of My Life” do Queen dificilmente era selecionada no mesmo dia de “Ready to Take a Chance Again” do Barry Manilow (kitch total).

Enquanto a Excelsior era mais voltada para o pop, a Difusora era mais mulata, tocava mais músicas black, numa época em que a black music não era mainstream. Eu pirava o cabeção quando tocava “Push, Push” (Brick), “Sky Zoo” (Sky), “Money” (Fatback Band), “How Do You Do?” (Brass Construction). Como poderia definir a Difusora? Vou tentar. A Difusora era direto na veia, enquanto a Excelsior era mais floreada. Consigo lembrar de dois programas. O primeiro deles é o “Melhor de 3”, nas manhãs de sábado. O ouvinte escolhia uma música entre três tocadas. A mais pedida repetia. À tarde, depois do “Projeto Minerva”, as vencedoras de todas as seqüências de 3, tocavam novamente em “As Melhores da Melhor de 3”. “My Life” do Billy Joel figurou por muito tempo nas melhores. O segundo programa era o “Programador 9-6-0”, aos domingos, cuja fórmula lembrava o "Pediu, Tocou, Ganhou" da concorrente. O ouvinte enviava uma carta e indicava 3 músicas. Ah! Lembrei de outro. O “Big Apple Show” do Julinho Mazzei começou lá na Difusora.

De repente, no início dos 80s tudo mudou. A Excelsior mudou a sua programação para o jornalismo, a fim de concorrer com a Jovem Pan AM. Mais tarde viria a se tornar a CBN (Central Brasileira de Notícias). Já a Difusora foi pro buraco junto com a Tupi. Ao mesmo tempo, a rádio Cidade foi inaugurada e trouxe para o dial paulistano um estilo de FM descontraído e dinâmico (o prefixo-slogan era este: “ZYD 854, rádio estéreo Cidade, a nº 1 do FM, 96,9 Mhz, São Paulo”). Em Santos, a Cultura FM ensaiava os primeiros passos neste sentido. Resumo da ópera, para se ouvir música jovem, necessariamente o ouvinte teria que migrar para o FM.

Eu fiquei muito puto! Primeiro, porque morando lá na província de Santos, o acesso ao mundo pop musical era mais difícil (a MTV brasileira surgiu em 1990). Mais que isso, Excelsior e Difusora deixaram órfãos uma legião de jovens que se habitou a ter o rádio como companhia de todos as horas, seja na hora do estudo, no chuveiro, na praia, no carro. Segundo, porque o FM começava a se disseminar e eu não tinha rádio FM - e pensar que hoje com 'déis real' se compra um radinho na esquina.

A transição da Excelsior até se transformar definitivamente numa rádio ‘all news’, a CBN, me lembra um episódio do segundo melhor seriado de todos os tempos (só perde para o Seinfeld): “Anos Incríveis”. Na historinha, o protagonista da série, o pré-adolescente Kevin Arnold e seus amigos, Paul Pfeiffer e Winnie Cooper, tentam impedir a destruição de um bosque que seria “substituído” por um Shopping Center. Vai explicar isto para aqueles garotos que viam naquele bosque as lembranças de uma infância feliz. Dias depois, lá estão eles alegres e saltitantes passeando pelos corredores do, até então, famigerado símbolo do progresso. No caso da Excelsior, a máquina do som virou a locomotiva da notícia, a rede CBN (“a rádio que toca notícia, em AM 780, FM 90,5”, outro brilhante rótulo fantasioso). Hoje a CBN é top 3 nas memórias dos meus rádios.

De 1980 pra cá, o rádio passou por inúmeras transformações. O FM se tornou popular, as transmissões passaram a ser em rede nacional, via-satélite, e ocorreu uma natural segmentação de público. Basta passear pelo dial que é possível conferir uma transmissão de futebol, um noticiário, MPB, pop, rock, babas tecno, música clássica, etc.

Concluindo, deputado, alguns nomes ficam na memória (do cérebro) não apenas pela conteúdo, mas pela marca que imprimem na cabeça das pessoas. A Excelsior atingiu o status de “Top of Mind” da minha vida, na categoria rádio. Ainda hoje ecoa na minha mente o vozeirão do Antonio Celso no slogan “EXCELSIOR, A MÁQUINA DO SOM”.

Feliz aniversário, Regina!

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P.S.-Vinheta 1: “Tel, tel, tel, telefone Excelsior, oito-dois-cinco-um-um-três-dois, Excelsior”

P.S.-Vinheta 2: “Pediu, tocou, .... GANHOU!”

P.S.-Vinheta 3: “Peça bis para o sucesso, peça bis para o sucesso. Sucesso, Excelsior”

P.S.-Música tema de “não sei o quê”: “(...) Vem, me dê a mão ou me dê o braço / O mundo é grande tem muito espaço / Mil maravilhas pra gente ver (...)”

P.S.-Tirada pop da época: a Suzy Quattro morreu. Motivo? Foi atropelada pela máquina do som.

P.S.-Pool FM. Depois da Excelsior, a efêmera Pool FM da 1ª fase (1984 a 1985) é a 2ª no meu “Top of Mind”, categoria rádio. Esta fica pra outro capítulo.

2 Comentários:

  • Às 1:56 AM , Anonymous Reinaldo Lima disse...

    Viajei no seu relato , bacana hein ? , eu ouvi muito também a Ecelsior a Máquina do som , era bem pequeno e já muito ligado em rádio , ou melhor radinho de pilhas da marca Evadin duas pilhas pequenas, época em que ter um radinho desses era dificil , caro mesmo para os padrões da época, diferentemente de hoje que como voce comentou acima 10 reais compra-se um .
    Eu não só ouvia a Excelsior como também ouvia a Difusora 960 , e também passeava por outras estaçoes, só que as top da época éram só essas duas mesmo, ha eu ouvi muito o Gil Gomes , rs... o zé bétio também ,,, joga água nele muié ,,,, rs.... eu só tive meu primeiro 3x1 em 1988 que comprei no mappim da praça ramos, tive um gravador antes da marca Sanyo , pois é só mesmo que tem mais de 40 anos é que viveu esta época boa do radio , eu até o inicio dos anos 90 foi bacana , depois começou a decadencia .
    Gostei muito de seu escrito , valeu , eu tenho um blog também no wordpress, se quiseres de uma passada lá , abraços ,
    Reinaldo Lima

     
  • Às 7:22 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Eu gravei muitas e muitas músicas a partir do Pediu Tocou Ganhou e também as músicas à noite, que colocavam nossa voz pedindo as músicas. As fitas daquela época que eu gravava do rádio ainda existem, mas eu acho que não tocam mais. Tem músicas que eu não sei o nome e não consigo saber procurando as melhores músicas dos anos setenta! Que pena! Parece que só a Excelcior tocava aquelas músicas!!!
    Se alguém souber de um acervo daquelas músicas, além do site http://viagemusical-diversos.blogspot.com/2008/06/excelsior-mquina-do-som.html
    avisem neste blog
    Abraços

     

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