Marcos Pereira on-line

25 dezembro 2024

Feliz Aniversário, Jesus! - feliz término do seu/meu inferno astral (espero!)




Querido Jesus, você não precisava transferir seu inferno astral para mim. Só isto explicaria as agruras por que tenho passado nestas últimas semanas, depois de eu ter ocupado sua casa. Comportamento típico de uma BVV (Bixa Véia Vingativa). Eu sou um mero mortal, no meio de bilhões de habitantes do planeta. Já, você, é o filho Dele. Tá bom! Não tenho sido uma boa pessoa ao longo da minha passagem por aqui. Vamos lá... que estas mal traçadas linhas sirvam ao menos como desabafo e consolo.

Tudo começou quando eu tive que me mudar, provisoria e compulsoriamente, para a sua casa. Contextualizando, segundo o Pipykho, a casa anexa, que agora é "the one and only", no terreno da casa da minha mãe (in memorian, que Deus, seu Pai, a tenha!) é a "casa de Jesus". Ele batizou assim, a partir da perspectiva do mundo fantasioso de uma criança, devido às várias imagens e objetos religiosos que haviam dentro do recinto. E, para entrar na "casa de Jesus", conforme ele, é preciso abrir a porta do céu. Na verdade, uma grande porta de correr.

De volta ao inferno astral, provavelmente tudo começou depois que eu me mudei, pois coincide com o inferno astral do filho Dele. Ou seja, aproximadamente 1 mês antes de 25 de dezembro, que, aliás, é hoje. Parabéns, JC! Muitos milênios de vida. What the fuck coincidence! Or not!

Logo de cara, na mudança, a TV que eu usava, mais propriamente como monitor do notebook capenga, caiu e a tela trincou. Sem conserto, diagnosticou a assistência técnica. Como eu precisava estudar e fazer os trabalhos de TCC, passei a usar o notebook mesmo em estágio de "metástase" progressiva. Trata-se de uma mancha preta, que se espalhava pela tela, tal qual o câncer se espalha e consome o corpo da vítima. O teclado, também bixado. Enfim, o notebook mais parecia o exterminador do futuro quando lhe sobrou somente a CPU e a carcaça aos frangalhos. Se bem que, fora isso, o notebook estava bala, depois que foi instalado o Windows 10. A performance melhorou muito. Ok, mesmo em "metástate", com a parte da tela visível, eu conseguia segurar a onda e programar. Afinal, eu sou brasileiro e não existo, ou melhor, não desisto nunca.

Dias depois, no meio das entregas, a luz da bateria do painel do carro acendeu. Como não aconteceu nenhuma pane e o carro continuou funcionando, continuei até o fim das entregas. No final da tarde, fui levar o carro para oficina. No meio do caminho, em plena Brigadeiro Luiz Antonio, altura dos Jardins, o carro começou a engasgar e foi parando. Só deu tempo de subir na calçada para evitar que parasse e interditasse a faixa exclusiva de ônibus.

Depois de várias tentativas e a outra bateria, a do celular, quase acabando, consegui falar com o moço da oficina para pedir socorro mecânico. Como ele estava sozinho, não podia deixar a oficina. Então me passou o contato de um guincho camarada. Estava demorando muito, liguei novamente e o moço do guincho tinha anotado o número errado da rua e estava me procurando na outra extremidade da avenida, próximo do centro.

Enfim, resolvido parcialmente... o guincho rebocou o carro e lá fui eu para a escola, pois não queria perder a "aula-show" de programação WEB. Estava exaurido e sairia no intervalo. Mas, logo no início da aula, o Julius lembrou da atividade prática, agendada para depois do intervalo, valendo nota. Putz! Eu tinha esquecido completamente. A atividade nem era difícil; só trabalhosa. Saí de lá exausto mentalmente.

Com o carro-dormitório "internado", decidi ir para Santos. Eu merecia a minha cama. Peguei a Ponte Rodoviária Santos-São Vicente. Não demora muito e eu chego na casa de Jesus, pensei. Amanhã esta será somente a lembrança de uma "a hard day´s night". Alto lá, o meu périplo ainda não tinha acabado. Já acomodado na poltrona, quase cochilando, o motorista avisa que o ônibus seguiria pelo canal 2, ao invés do normal, que seria o canal 1, interditado para obras. O que significa que eu teria que andar a pé mais uns 13 minutos que o habitual.

O pior, bem pior, estaria por vir. Dias depois, num sábado, deixei o carro na rua, como costumo fazer, para ir ao cinema assistir "Ainda Estou Aqui". Velhinho, meu carro nem é visado para roubo. Por isso, nem me preocupei e deixei a mochila no porta-malas. Quando voltei, o vidro da janela estava quebrado. Levaram meu travesseiro da Minie, lembrança da Larissa, meu saco de dormir lindo e maravilhoso e minha mochila companheira "Deuter", recém recondicionada. Muito da minha vida portátil estava dentro da mochila: higiene bucal, tesoura de poda, iPod, notebook (o da metástase), teclado Microsoft, mouse HP e, principalmente, o HD externo com toda minha vida digital armazenada dentro. E, também, minha camiseta regata (toda rota) de Ilhéus que, incontáveis vezes, vestiu meu dorso marrom-bombom. Ah! E a cueca boxer da cor do pecado (vermelha).

Putz! Como eu fui Mané! Perdas irrecuperáveis, algumas de valor afetivo inestimável. Nem senti raiva de um provável nóia (morador de rua drogadito) que, supostamente, cometeu tenha cometido o delito. A questão é mais de saúde pública que de segurança. Procurei apenas não pensar e deixar a noite acabar e um novo dia raiar. Talvez, este episódio tenha sacramentado o fim de um ciclo e o início de um novo, visto que este ano (2024), completei 8 setênios no planeta. Será que teria sido um sinal, mesmo? Sinal de que é hora de desapegar e dar espaço para o novo? Se foi, não precisava ter sido desta forma abrupta. Fazer o quê? O nosso controle sobre a vida é muito frágil. E, lembrando, eu estava vivendo um inferno astral terceirizado do filho Dele.

Não acabou aí. Fui tirar o ventilador, preso na parede, para direcioná-lo para a cama, pois o Pipykho é muito peludo e transpira demais, a ponto de amanhecer com a camisa encharcada de suor. A gambiarra funcionou a noite inteira, a contento. Fui mexer depois e o aparelho desencaixou, uma das pás giratórias prendeu na armação e quebrou.

Mas, tudo bem. Eu passei por todas estas provações, entendendo que, no balanço contábil da vida, quando Ele for passar a régua na minha conta terrena, eu consegui créditos valiososos que vão melhorar minha pontuação na hora da derradeira sentença.

Não acabou por aí. Muito do meu planejamento para 2025 estava centrado no curso de agroecologia. A ideia era unir a área de TI com uma das paixões da vida. Semana retrasada, eu recebo um email informando que o curso foi cancelado devido a falta de demanda. Como cantou o Fagner, 🎶 não dá pra ser feliz / não dá pra ser feliz 🎶.

Pois bem! Hoje é o seu aniversário, seu nazareno de uma figa! Se a minha suspeita se confirmar e você, com seus super poderes, terceirizou o seu inferno astral, então, hoje ele acaba. Tá perdoado, então. Em breve, eu saio da sua moradia e tá tudo certo. Sem mágoas.

Ops! Ainda tenho pela frente o meu próprio inferno astral, que começou recentemente. Só me resta andar pela sombra, evitar passar por debaixo de escadas e coisas do tipo. Enfim, tentar passar incólume por este período.

Boa sorte pra mim!

Feliz 2025, JC!
E viva Zapata!

PS: sem PSs hoje.

PS II: hoje, na revisão do texto, tem PS sim. Sobre o filme "Ainda Estou Aqui", eu fui assistir meio sem vontade. Acho cansativas estas narrativas do período do regime militar, no Brasil. Sim, entendo que precisam ser contadas para que não se repitam. Mas, os filmes brasileiros, na minha opinião, parecem retratar o tema de forma romantizada. Diferente dos filmes argentinos, por exemplo, que também passaram pelo seu período de exceção.

PS III: e eu também não gosto dos filmes do Walter Salles. Mas (sempre tem um mas), "Ainda Estou Aqui" não é sobre a ditadura militar no Brasil, embora tenha ela como pano de fundo. Gostei... e muito! O filme é sobre a matriarca, Eunice Paiva, e sua família burguesa. Retrata o antes e depois do desaparecimento do marido e pai Rubens Paiva, torturado e morto pelo regime militar. O Marcelo Rubens Paiva, filho e autor do livro que inspirou o filme, concedeu, recentemente, entrevista ao programa "Roda Viva". Mas esta, do programa "Juca Kfouri Entrevista", vai mais a fundo ...