Marcos Pereira on-line

31 dezembro 2017

2016 - What the fucking crazy year's short retrospective! [Inclui MJHM 2016, faixa a faixa]





Intróito mea culpa do blogueiro

I´m late, mas antes tarde do que nunca (ô loko, meu! Essa é nova, hein!). Esta curta retrospectiva de 2016 está emperrada nos meus rascunhos desde dezembro de 2016.

O motivo da demora em publicá-la? 
Angústia de querer melhorar, de querer refinar o texto, em busca da(s) palavra(s) perfeita(s).
Mas não dá mais. Preciso parí-la, já e agora, antes que fique mais datada do que já está.
Embora a ideia de uma retrospectiva seja justamente datar e registrar um período.

Então, let´s get it on, girls and boys ...

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2016 foi intenso
2016 foi catártico
2016 foi mudança
2016 foi parto
2016 foi pranto

2016 foi um ano de transição, sabe-se lá para onde.
Repetindo-me, foi intenso.  

2016 não queria terminar. Aliás, tem-se a impressão que se arrastou até janeiro ou fevereiro de 2017. Na verdade, parece que 2016 inaugurou a era de um continuum no calendário, no qual um ano emenda no outro, sem interrupções, tal qual as faixas do álbum "The Dark Side of the Moon" (Pink Floyd).

Foi um ano de perdas de várias figuras icônicas e emblemáticas.
Em 2016, o anjo da morte passou voraz e levou muita gente boa: Cauby, Bowie, Prince, "El Comandante" Fidel, tio Mané, George Michael. Teve impeachment, teve acidente aéreo que vitimou time de futebol.

Ufa! Mas, ainda bem, também teve coisa boa. 
Quase esquecida, no meio de um turbilhão de acontecimentos, teve olimpíada no Brasil com direito a Serginho consagrado bicampeão olímpico no vôlei masculino e, também, a conquista de título, até então inédito, no futebol masculino. E teve a melhor música, cantada pela figura mais exótica: Liniker e os Caramelows, fazendo "Zero" (vide vídeo acima).

Algumas expressões incorporadas ao vernáculo do povo popular, que passaram a frequentar os discursos: 

. "empodeiramento" -  empregado, geralmente, pelas minorias para reforçar e reafirmar sua força;

. "e tal" - empregado quando antes se utilizava "etc.", ou mesmo "etc e tal". Íncrivel como se tornou um vício. Assim como no uso de "etc.", de forma viciada, a expressão "e tal" é um recurso que se lança mão quando faltam palavras para completar um raciocínio ou, na falta de exemplos, para enumerar uma lista. Por exemplo: a cidade de São Paulo é repleta de restauraurantes de diversas nacionalidades, tais como a italiana, japonesa, francesa e tal.

. "deu ruim" - tipo-assim, deu errado, não funcionou. 

. "..., só que não" - após várias afirmativas, quando se profere o "só que não", invalida o que foi dito anteriormente. 
"..., só que não" é semelhante à expressão "brincadeirinha, hein!", de antigamente. 

Bom, chega de retrospectiva! 
2016 foi tão "over", "too much", que me travou. 
Eu quero mesmo é falar das músicas que fizeram a minha trilha sonora de 2016. Já e agora!

Que rufem os tambores! 

Ladies and gentleman, lá vai a seleção do ano, performed by Mauro Jorge Records ... 

MJHM 2016 - Faixa a Faixa
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1) Chiclete com banana - Jackson do Pandeiro. 

Arranjo de big band, biscoito finíssimo! Isto é que é empodeiramento, amigx!  Autoestima em altíssima cotação ("Eu só boto bibop no meu samba, quando o tio Sam tocar meu tamborim"). 
O tio Mané amava de paixão.

2) O Grão Mestre Varonil - Tim Maia.

Homenagem ao tio Mané. 
Faz parte do clássico álbum "Racional". 
No verão de 2007, foi o mantra repetida e insistentemente entoado pelo Filipe e por mim (a Laís não aguentava mais ouvir) na viagem de férias para Camburi.

3) Detalhes - Roberto Carlos. 

É tão sublime que me merece um post exclusivo.
Só uma palhinha do que está por vir ...

"... E a letra é magistral e majestosa. Começa e termina  com os mesmos versos:  "Não adianta nem tentar, me esquecer / Durante muito tempo em sua vida, eu vou viver". A diferença é a entoação da voz. Na introdução, RC canta de forma firme. Já no final, parece mais conformado com o fim do relacionamento.
...
Da letra [de 'Detalhes'], destaco também o 'a' craseado mais belo da música romântica brasileira, que introduz a estrofe abaixo:
'(...)  À noite envolvida no silêncio do seu quarto,
        Antes de dormir você procura o meu retrato.
        Mas da moldura não sou eu quem lhe sorri,
        Mas você vê o meu sorriso mesmo assim (...)' ..." 

4) Telefone - Gang 90 e As Absurdetes 

Me transporta diretamente, non-stop, sem escalas, aos meus 15 anos. Os teclados nas músicas dos anos 80 eram estridentes, berrantes como as roupas cor néon do movimento new-rave. Nesta música, soa diferente ... o teclado é cirúrgico e traduz o lirismo agônico da letra. E aquele coro "Ó, meu amor, isso é amor, ó, meu amor, isso é amor / É amo-ô, é amo-ô"? Que lindo, que lindo, que lindo! 

Eu amo, tipo-assim, de paixão, amiga, declarações de amor inflamadas em refrão de músicas românticas.

O ritmo da música alterna um 'q' de brega com pegada de balada-rock - se eu fosse crítico da "Ilustrada", escreveria que "Telefone" é a música que o "Cidadão Instigado" não fez. A parte brega me remete ao cenário de uma casa da luz vermelha (puteiro). Imagine um cabra-macho, trajando camisa estampada desabotoada até o peito e uma rapariga de vestidinho vermelho carmim.

Então, o cabra se aproxima da rapariga, trava o corpo dela junto ao dele, unem-se as mãos, braços recolhidos perpendicularmente às cinturas, rostinhos colados, bailando com passos diagonais curtos, ao som de "Telefone". Pois é! Eu imaginei esta cena!          

Bom, onde eu estava mesmo? Ah, lembrei! Fazia tempo que eu não ouvia "Telefone". Aconteceu numa noite fria de início de primavera. Cheguei em casa tarde da noite. Corpo doído, emocional fragilizado, liguei na rádio "comuna" RBA (Rádio Brasil Atual, 98,9 Mhz, no dial FM de São Paulo - "aqui você ouve as músicas que as outras não tocam") e tocava esta maravilha. Música certa, na hora mais do que certa. That night, a radio DJ saved my life! E, obrigado, Absurdetes, por ninarem o meu sono com o delicioso estribilho (bela palavra!) "Ó, meu amor, isso é amor /  Ó meu amor, isso é amor / É amo-ô, é amo-ô".

5) Zero - Liniker 

A música do ano, eleita pelo conceituadíssima premiação Mauro Jorge Awards, evento (?) promovido pela Mauro Jorge Records. A versão de estúdio é só legal. A acústica, do Youtube, que lançou o cantor, é sensacional. Eu canto "Zero" a plenos pulmões, que nem uma loka, dirigindo a 100/hora (, meu amor, só tens agora os carinhos do motor). Principalmente, o finalzinho acappela (minuto 4´33"):

"... E coube tudo na malinha de mão do meu coração ...". E no "chorinho", já nos acréscimos da música, ele ainda manda 3x este tresloucado verso:
"Deixa eu bagunçá você, 
 Deixa eu bagunçá você, 
 Deixa eu bagunçá você, você-ê!".

Em tempo ... a estética visual do Liniker causaria inveja ao Bowie. 

6) Eu não aguento - Titãs 

Começa com um baixo de responsa, homenageando o "Secos & Molhados" ("Sangue Latino"). Entra aquele refrão arrastado: 

Eu não aguento, eu não aguento,
Eu não aguento, eu não aguento,
É de noite é de dia,
Mão na cabeça e documento

Aí, o Charles Gavin executa uma virada pirotécnica de bateria de fazer a casa cair. Duas guitarras eletrificadas iradas, uma em cada canal (olha a estereofonia aí, gente!) duelam intermediadas por  baquetas nervosas em fúria absurda. 

É o tipo de música para se ouvir bem alto, a ponto de estourar os tímpanos ou os falantes do carro [não, não dá para ouvir no som chocho de celular ou em caixinhas multimídia!]. 

Ajudou a aliviar um pouco a sensação de raiva e impotência com a morte do Theilor, assassinado por um policial numa batida. Não por acaso, a música descreve uma batida policial, daí a relação.

7) Don´t give Up The Fight - Bob Marley 

Bob é redentor, libertário. A morte do Theilor me comoveu. Então, catei alguns CDs de música de preto para ouvir no carro. Mal conhecia o garoto, apenas de cumprimentar. Mas, precisava homenageá-lo de alguma maneira ... à minha maneira. E o randômico do CD player, certeiramente, "escolheu" "Don´t Give Up The Fight". Gosto da letra toda, em especial, desta parte:
             
Most people think,
Great God will come from the skies,
Take away everything
And make everybody feel high.
But if you know what life is worth,
You will look for yours on earth:
And now you see the light,
You stand up for your rights. Jah!             
You can fool the people , but you can people. 

Nas entrelinhas, estabelece uma conexão com "Procissão", do Gil.

8) No Woman No Cry - Fugees

Também estava no mesmo lote de CDs de música de preto. Revoltado, timidamente eu chorei na Ataliba Leonel.

9) Ready or Not - Fugees.

Dobradinha de Fugees, no embalo da seleção black. Lembrei do Danilo, meu colega de dia de nascimento (19/01). Em passagem pelo Brasil, num rolezinho de carro comigo e com o Gustavo, coloquei Fugees pra tocar na minha, então, super descolada disqueteira Pionner (cabiam 12 CDs).

Qual não foi a surpresa dele, ao perceber que um tiozinho latino-americano (eu, no caso) possuia aquele CD estouradaço na América anglo-saxônica (comprei na DJ Feers, do Shopping Parque Balneário,em Santos - o vendedor da loja, Mário [que Mário?], grande conhecedor de música, vibrava quando eu passava na loja), depois de assistir à antológica apresentação do Fugees com a Roberta Flack em "Killing Me Softly", no Video Music Awards da MTV, de 199? ? Então, o Danilo pediu para colocar na música 3. Exatamente "Ready Or Not", que ele cantou começo ao fim, com direito aos trava-línguas da letra. Tipo-assim, lacramos, amigx!           

10) The Threat of Joy - The Strokes. 

Um Julian Casablancas preguiçoso nos vocais. Pop-rock com cara de bossa-nova eletrificada. Adoro as guitarras do Strokes combinada com a voz modulada do Julian Casablancas, algo despretenciosa, meio baiano-caymyniana. Casou perfeitamente com a deliciosa melodia da música.

11) Bruno Mars - 24K Magic 

O cara deve ouvido muito a Difusora (960 Khz, no dial AM de São Paulo, anos 70/80, século XX), Antena 1 (fase black, antes da atual adulto-contemporâneo-tiozão-Honda-Civic-ou-Corolla), Bandeirantes FM (96,1, onde tudo acontece) e Pool FM (a lendária rádio comandada pelo lendário Julinho Mazzei, atual 89 FM, a rádio rock). Como diria o comentarista de futebol Caio Ribeiro, méritos para o garoto, amigão, que conseguiu condensar ZAP + Gap Band + One Way + Brassconstruction, numa só pedrada. 

Se fosse o Luizão, da Chic Show, no programa Balanço Geral, diria que "a galera passa mal!". Ou, no dialeto do Sérgio Scarpelli (programa "Back to Black"), "24K Magic" é uma sapatada na orelha.
A black music old school e o tiozão aqui agradecem a reverência.

12) 2 Cafés - Tulipa Ruiz e Lulu Santos  

"2 Cafés" é quando a música, em particular, e qualquer expressão artística, no geral, tem o poder de tocar fundo, fazer refletir e, inclusive, transformar vidas. Era exatamente o que eu precisava ouvir. Faz crer que eu não estou sozinho nos dilemas da existência humana que, em última análise, apenas quer um lugar ao sol e ser minimamente feliz. Grato!      

P.S.: eu queria ser amigo da Tulipa. Quando nem era famosona, lembro que ela ficou bem na minha frente no (saudoso) festival Catarse (Choperia do Sesc Pompeia), dificultando a visão do palco. Assim que percebeu, pediu desculpas e saiu da frente. Puta mina da hora, meu! 

13) Tempos Modernos - Lulu Santos
       
Porque Lulu é pop até o osso, no melhor dos sentidos. 
Em 1983, "Tempos Modernos", preconizava a esperança de um mundo melhor. Eu acredito. 
E aquela slide guitar havaiana marota, que só ele tem a manha, hein, hein?! Habla sério! Lulu humilha qualquer guitarrista de bandinha-bundinha de hoje em dia, com garbo e elegância ímpares.

14) It´s a Long Way - Caetano Veloso 

Das caixas acústicas da rua central, instaladas no alto nas paredes em tijolo aparente, do Sesc Pompéia, tocava uma sequência musical em loop. Pera aí! Eu conheço isso, cara! Era simplesmente a percussão e o baixo de "It's a Long Way", que integra o álbum "Transa", um dos Top 3 nacionais of all the times, eleito pelo repeitadíssimo e conceituadíssimo conselho editorial da Mauro Jorge Records. "Transa" é Caê em estado de graça, Caê mago, brincando com as possibilidades do verso e da canção. Caê é lindo!

15) Hey 19 - Steely Dan 

Porque Steely Dan é estiloso, é classudo. I cath the beat! Arranjo básico do básico. Se ouve bateria, baixo, guitarrinha chiquetosa. Tudo na dinâmica certa, na medida certa. 

Tipo de música que, no final, entra numa espiral, que poderia durar por toda a eternidade, amém! Eu me peguei lavando louça e bailando,
tipo-assim, amigx, do nada. Este é o poder da música. 

Nice
Sure looks good
Mmm mmm mmm
Skate a little roller now    

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C'est fini!
Finished!
Arrivederci!
Bye, bye, solong, farewell! 


E Viva Zapata!