Marcos Pereira on-line

19 janeiro 2013

Feliz aniversário! Envelheço (e renasço) na cidade!



Penso que não  deve ser só isso.
As sensações vividas por cada um, por mais redundante que possa parecer, são individuais.
Nem sempre  podem ser  compreendidas  pelo olhar de um voyeur, que assiste o(s) outro(s) através de uma película. Embora tentemos o tempo todo  encapsular o comportamento em categorias, para encontrar um padrão comum e inteligível.

E, se realmente, for só isso?
Pode ser bom também. Por que não?

E viva a rosa! E o meu projeto de vida. Ou, o meu não-projeto de vida!

E viva Zapata!

E feliz aniversário pra mim!


PS.: gostei muito do texto.Me identiquei com a inquietação reflexiva que costumo sentir ao sair do cinema, após assistir um filme interessante e/ou desconcertante. O mundo exterior de alguma forma se torna cúmplice deste sentimento ou as antenas perceptivas captam sinais normalmente despercebidos, ao ponto de se fazer associações, como a que o Contardo fez do filme com a  'Blue Note'.   

PS: Irresistível a citação do Paralamas: "a vida não é filme e você não entendeu".

03 janeiro 2013

Crying - Pela volta das canções românticas no rádio




                    Vídeo de mil novecentos e TV em preto e branco. Literalmente! 
                    Esqueceram de avisar o cameraman que o programa já estava no ar.  
                    Meio desnorteado, ele aponta o instrumento (câmera) em várias direções, 
                    até finalmente encontrar o Roy Orbison, aos 45 segundos de música rolando 

                            Gravação com o áudio original de 'Crying'

Pode parecer conflito de gerações. Afinal, já rompi a barreira dos 40 (rumo aos 45). Mas é curioso como nos dias de hoje, nem de longe se faz música pop romântica, daquelas que tocam incessantemente no rádio, como antes. Nem em quantidade, menos ainda em qualidade. Atualmente, as pobres e cruas batidas do rap e da música eletrônica, ditam o pop de uma nota só.

Em oposição (good transiction, diria Mr. Willie), no século XX, um sem-número de canções melosas abundava aos borbotões (rara palavra) nos Hit Parades radiofônicos. Sim, músicas babas, por vezes pegajosas, piegas, porém docemente  belas. Em pouco mais de 3, 4 minutos, cabiam, inclusive, lindos arranjos de cordas e sopros. Coisa finíssima! Para perceber a riqueza melódica daquela época, basta ouvir uma destas coletâneas The Very Best of Elton John ou The Greatest Hits of Carpenters. 

Independentemente do estilo musical em voga, sempre havia uma vertente romântica, fosse rock (Kiss gravou Forever), disco (Bee Gees gravou How Deep Is Your Love), black (Earth, Wind & Fire gravou After The Love Has Gone), pop farofa (No Doubt gravou Don´t Speak – by the way, eu pago móu pau pra Gwen Stefani), etc.

Estaria o mundo, no século XXI, se embrutecendo? Mas os brutos, e os metaleiros, também amam, sim senhor(a)! Por que, então, não há mais espaço para singelas canções de amor? Como cantou a banda Gorillazz, lá nos idos dos anos ‘00’, the world is spinning too fast (o mundo está girando muito rápido). Quiçá (boa conjunção, no contexto!), a aceleração dos tempos modernos teria contaminado também a música. Aliás, o verbo associado vem mudando. Antes se ouvia música; hoje se consome.

Ora bolas, mas de onde vem esta minha inquietação sócio-radiofônico-cronológico-musical? Foi assim ...
Siderado em informação, um dos poucos momentos que consigo pressionar um hipotético botão ‘OFF’ mental, é quando estou na província de Santos. Sem afiliadas da CBN e Bandnews FM na região, giro o dial em busca de músicas, enquanto dou de comer às minhocas vermelhas californianas e cato amoras no pé. Na Classic Hits, rola Uma Mensagem de Amor, na voz do Léo Jaime (sax de responsa). Noutro giro, o Dárcio Arruda anuncia, no programa Jet Flash (alusão ao slogan Jet Music, da rádio Difusora), a música Crying, na regravação do Don Mclean (de American Pie, regravada pela Madonna) para um clássico do Roy Orbison.

PQP! Eu quero mais disto, pensei. É muito bom! Já de volta à metrópole, vim conferir aqui na rede. E qual não foi a minha surpresa? Ao me deixar ouvir a Crying original-de-fábrica, meu mundo interior parou no tempo da canção, que se revelou ainda mais passional: desmedidamente terna, desmesuradamente clamorosa (ah! como eu gosto do sufixo ‘des’, formando advérbios de modo!), redundantemente chorosa, esplendorosamente linda. Além da melodia, o poder da canção reside nos versos curtos, simples e cortantes, finalizados com rimas ricas (palavras de classes gramaticais diferentes, tipo-assim, substantivo com advérbio, verbo com adjetivo, etc). Por exemplo ...

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Smile /  while            (sorriso / enquanto)
Night /  tight              (noite   / forte)
Well  /  tell                 (bem     / contar) 
More /  Before           (mais   / antes)
Understand / hand      (entender / mão)
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E o que dizer sobre a estrofe abaixo, eleita pelo júri da Mauro Jorge Records uma das melhores da letra? 

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I love you even more                        (Eu te amo ainda mais)
Than I did before                               (Do que antes)
But darling, what can I do?                 (Mas querida, o que eu posso fazer?)   
For you don’t  love me                      (Pois você não me ama)
And I’ll  always be crying over you     (E eu sempre estarei chorando por você)
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Tadinho! O cara tava desconsolado.

Nos versos finais, o macho desaba de vez e agoniza em praça pública, ou melhor, em canção popular, como que um lobo uivando (youuuuu) de dor para a lua cheia, singrando (com ‘i’ mesmo, do verbo singrar) o céu com o seu falsete. Em consonância, a parte instrumental aumenta em dramaticidade com o bumbo da bateria num crescente, acompanhado de um coro dilacerante, em uníssono com os violinos, emulando (viagem da minha cabeça) a imagem de um cortejo marcial ...

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Yes, now you’re gone                         (Sim, agora você se foi)
And from this moment on,                   (E a partir desse momento)
I’ll be crying, crying, crying, crying      (Eu estarei chorando, chorando, chorando, chorando)
Yeah, crying, crying over you              (Sim, chorando, chorando por você)
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Lindo! Lindo! Lindo!

Cara, o que é isso?

Parafraseando sir Paul McCartney, mestre dos mestres, apenas mais uma da série ‘canções de amor bobas’. Como ele próprio canta em Silly Love Songs:  “E o que há de errado nisso?” (And what's wrong with that?)

Viva as canções românticas!
Viva Roy Orbison!
Viva Paul McCartney
E viva Zapata!!!

               Lembrando o seriado do (flácido) Batman, dos anos 60, 

                                              TO  BE CONTINUED ...

PS: caro(a) internauta, perdoe-me pelo abuso no  uso do recurso metalanguístico narrativo (diga-se, autoreferencido e reafirmado neste parêntesis deste  PS). Foi irresistível e incontrolável. Eu precisava!