Marcos Pereira on-line

27 fevereiro 2010

Melhores de 2009

A imagem mais impactante do ano

2009? Já foi? Então, here we go, porque 2010 já vem atropelando ...

No cinema, destaque para dois filmes diferentes, porém, com um ponto em comum. Ambos tratam de fim de relacionamento. O primeiro, ‘Apenas o Fim’ é repleto de referências pop. O casal protagonista, formado por um nerd-loser e a mina alternativa-outsider, encerram o namoro discutindo e lembrando os ‘good and bad times’ da relação. O filme se passa no campus da PUC-RJ. Do começo ao fim, muito blábláblá, à la filmes de Woody Allen. O segundo filme é ‘500 dias com ela’. Seria mais uma típica comedinha romântica americana. Mas não é. Ele queria um relacionamento, um compromisso. Ela não queria envolvimento; simplesmente uma companhia agradável e divertida. Normalmente estes papéis são invertidos. Felizmente, o final não é triste, nem feliz. Ainda bem. Se fosse, seria mais do mesmo. Este também tem uma pitada de citações pop, do ex-beatle Ringo Starr até música dos Smiths.

E lá estava eu zapeando a TV quando me deixei assistir o ‘Descolados’, na MTV. O seriado é sobre uma mina e dois caras que dividem um ap., em SP. Aliás, as ruas, parques e baladas da cidade são utilizados como pano de fundo das locações. A galera tem um ‘q’ de indie. É bem bacana, apesar de soar um tanto inverossímil. Difícil acreditar que as ‘casualidades’ retratadas ali possam acontecer na vida real. De qualquer forma, este seriado de jovens-cabeça-antenados e, como diz o próprio título, descolados, trouxe alguma graça à insossa grade de programação da MTV. Quem rouba a cena é o personagem Teco, cuja família acredita que ele faz intercâmbio em Londres e ele tem que se desdobrar para sustentar a mentira.

Nos esportivos televisivos, ponto para o Globo Esporte, edição paulista. O programa ousou e acertou na escolha do apresentador Tiago Leifert . Imprimindo um ritmo ágil e descontraído, ele mudou o tom para falar de assuntos recorrentes no meio esportivo. Coletivas mal-humoradas de técnicos mal-humorados e discursos padrão de jogador são levados na base da brincadeira, sem as típicas polêmicas dramáticas que gravitam na órbita do vazio. A produção também faz bonito. Simples trechos de entrevistas viram vinhetas. Como, por exemplo, a impagável fala do Zagalo ‘Aí sim, fomos surpreendidos novamente’. E o trecho do desenho Super Amigos - ‘enquanto isso, na sala de justiça’ – para anunciar uma decisão do Tribunal Desportivo. Sem falar no Nei Paraíba, o deus do amor. Ah! Volta e meia o programa exibe um ‘clipe’ com (um afetadíssimo) Richarlyson pagando de cantor de karaoke, num dueto passional, exagerando nos maneirismos vocais e desmunhecais ( http://www.youtube.com/watch?v=wD3LtIeMeHU ).

E sobre música? Mirei a Karina Buhr e acertei a Cláudia Dorei. Explico. Na edição especial ‘Melhores do Prata da Casa’, do SESC Pompéia, fui conferir a Karina Buhr. Mas, o ‘gran finale’ da noite ficou por conta da Cláudia Dorei. Para minha surpresa, acabava de conhecer a melhor cantora-trompetista do ano. Sua música, como alguém bem definiu, pode ser enquadrada como um subgênero do trip-hop, o trip-hop-solar. Ou seja, à atmosfera intimista e melancólica das batidas eletrônicas slow down, tipo-assim Portishead e Massive Attack, acrescentou-se o tempero dos trópicos, representado pela malemolência carioca da moça.

Afora o mega-mundinho do entertainment, cá no meu micro-cosmo de cidadão andarilho, uma cena me impressionou bastante. De repente, andava eu pela Paulista, quando avistei uma bicicleta no canteiro da calçada, presa ao solo por ganchos, próxima ao meio-fio (vide foto lá em cima). Tratava-se de uma homenagem à sua, até então, para mim, anônima dona. Márcia, conforme informava a matéria do Estadão, afixada no mural do pequeno memorial, era uma entre tantos ciclistas que se arriscam por entre carros, ruas e avenidas da metrópole. Ela morreu ali, atropelada por um ônibus. Pairava no ar a comoção por uma desconhecida e uma estranha sensação de incômodo. Sei lá! Deve ser porque a imagem lúdica, normalmente associada à magrela, contrastava radicalmente com o horror de uma morte vã - tomara que não tenha sido. Sem dúvida, a inquietação provocada por aquela bicicleta órfã, estática e solitária foi a (minha) imagem mais impactante do ano. À guisa de grito libertário, enquanto pranto reprimido, deixo aqui registrado os versos de uma verdadeira ode ao prazer de andar de bike, imortalizados na voz do grande Frederico Mercúrio:
I WANT RIDE MY BICYCLE
(Eu quero andar com minha bicicleta)
I WANT RIDE MY BIKE
(Eu quero andar com minha bike)
I WANT RIDE MY BICYCLE
(Eu quero andar com minha bicicleta)
I WANT TO RIDE IT WHERE I LIKE
(Eu quero andar com ela onde eu gosto)

Ufa! Em clima emotivo, enfim, após uma longa gestação e sucessivos adiamentos e refinamentos, consegui parir este 'melhores'. Agora sim, que venha 2010!

E VIVA ZAPATA!
E VIVA LAS VEGAS!

Melhores
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1) Imagem mais impactante: a bicicleta exposta na calçada da Paulista.
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2) Melhor filme brasileiro: ‘Apenas o Fim’.
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3) Melhor filme estrangeiro: ‘500 dias com ela’.
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4) Melhor filme exibido ao ar livre (Parque do Ibirapuera): 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain'.
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5) Descoberta antepasto-gastronômica: conserva de berinjela + tomate seco.
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6) Melhor música: 'Presta Atenção' (Comadre Fulozinha).
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7) Melhor segunda parte de música: ‘Pérolas’ (Cláudia Dorei).
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8) Melhor música de 2008, lembrada em 2009: ‘Compacto’ (Curumim).
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9) Melhor cantora-trompetista de trip-hop solar: Cláudia Dorei.
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10) Música mais fofa da cantora estrangeira mais fofa: 'Why Do You Let Me Stay Here?' (Zooey Deschanel, banda She And Him).
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11) Música mais fofa da cantora brasileira mais fofa: 'Se Enamora' (Tiê).
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12) Melhor música incidental, em documentário: Fuga no. 2 (Mutantes), no ‘Loki’.
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13) Música certa na hora certa: 'Here Comes The Sun' (Beatles). Num domingo invernal de agosto, após dias e dias cinzentos e chuvosos, o Sol reapareceu no exato momento em que a música emergiu randomicamente do iPod.
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14) Apresentadora mais encantadora da TV: Flávia Scherner, programa ‘Zoom’ (TV Cultura).
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15) ’Escândalo’ jazzístico que completou 50 anos: Álbum ‘Time Out’, do ‘Dave Brubeck Quartet.
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16) Momento mais bacana das férias: encontro com família soteropolitana no Vale do Pati (Chapada Diamantina - BA).
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17) Melhor programa ecológico de TV, aplicado à prática: Ecoprático (TV Cultura).
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18) Melhor seriado brasileiro: Descolados (MTV).
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19) Episódio mais catártico do programa turístico-antropo-social ‘Passagem Para ...’: Episódio 120, realizado na Guiana. O apresentador Luis Nachbin participa de um funeral naquele país. Diferentemente do convencional, lá a morte é celebrada com festa. Carreatas e pessoas a pé, algo como um trio elétrico em New Orleans, seguem o cortejo alegremente, embalados com muita música e dança.
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20) Melhor documentário: ‘Ninguém Sabe o Duro que Dei’. Relata a trajetória de Wilson Simonal desde a época em que ele rivalizava em popularidade com Roberto Carlos até a sua decadência, acusado de agente delator do regime militar.
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21) Melhor primeiro episódio de uma temporada: Primeiro episódio da 6ª. temporada do ‘House’. Um médico genial e genioso se vê dentro de uma clínica psiquiátrica. Impotente, sem poder articular seus joguinhos de manipulação com seus pares médicos, o Dr. House tem que encarar a si próprio e suas fraquezas.
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22) Melhor livro: Capitães da Areia, Jorge Amado. A narrativa é tão impressionante. É muito visual.
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23) Maior encontro de BGs (bichos-grilos): Toca Raul. Evento que reuniu várias bandas que se apresentaram em frente à Estação da Luz, durante a Virada Cultural, para tocar os álbuns do maluco beleza. Por todos os lados se via hordas de clones barbudos do cantor, loirinhas com vestes hippies, rastafaris e muitos óculos escuros. Ao redor do palco, varais estendidos de poste a poste com camisetas à venda, estampando os rostos de Bob Marley, Jimmy Hendrix, Che Guevara e outras divindades do universo pop. Impressionante o poder que o Raul Seixas tem de arregimentar todas as tribos. Parecia que ali havia aportado caravanas de naves espaciais vindas de São Tomé das Letras, Visconde de Mauá e do FFLCH (USP).
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24) Melhor expressão sinônima de ‘politicamente correto’: ‘politicamente asséptico’, por Malu Fontes (rádio Metrópole de Salvador).
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25) Melhor pedaço de pizza dos almoços de sexta com o Edu (novamente, ainda que indiretamente, os Cunha são lembrados na lista): pedaço da pizza Verona (padaria Bella Paulista).
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26) Pronúncia mais orgasmática de nome de praça: Praça Saens Peña (Tijuca, Rio). Trata-se de um verdadeiro orgasmo facial-respiratório. Um legítimo carioca, ao pronunciar este nome, movimenta todos os músculos da face e, de quebra, expele todas as impurezas retidas nos alvéolos pulmonares. Começa pela palavra sibilante Saens, notada e exageradamente chiada. Depois, os lábios se contorcem, provocando uma pequena distensão nas narinas. O movimento segue, estremecendo as maçãs do rosto e, por fim, termina com o piscar de um olho, seguido do outro.
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27) Melhor entrevistado do programa ‘Caminhos Alternativos’ (CBN): Juca de Oliveira. Muito bacana a visão consciente que ele tem do mundo em que vivemos. Por exemplo, a demasiada importância que se dá ao crescimento econômico em detrimento do crescimento humano.
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28) Descoberta linguístico-fonética: ‘Cool’ (pronúncia alongada) X ‘cu’ (pronúncia seca). Cool é suave, tranqüilo. Cu é seco. Próximas foneticamente, contudo, uma pequena variação na inflexão da pronúncia muda completamente o sentido que se deseja atribuir a algo ou alguém. Por exemplo: ‘Esse jogo tá muito cu’ / ‘Tal cantora é muito cool’.
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29) Melhor programa de rádio sobre cultura: Eldorado Cultura (Eldorado AM).
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30) Expressões cunhadas há poucos anos, lembradas neste ano: ‘Simples assim!’ / Tal [coisa/pessoa] está bombando.
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31) Melhor renovação de programa esportivo: Globo Esporte, edição paulista.
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32) Lugar mais cool: localização ok (centrão boêmio) + ambiente ok + música ok = Bar B.
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33) Episódio mais engraçado de um seriado: aquele do ‘The Big Bang Theory’ no qual a mãe do Leonard vai visitá-lo por alguns dias. Ela e o Sheldon, roommate de seu filho, se identificam em suas esquisitices e, no final, fazem um hilariante dueto no karaoke.
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34) Cena incomum no trânsito: motorista quase avança o sinal vermelho, ouve a queixa do pedestre (eu), recua o carro e pede desculpas.
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35) Melhor programa de entrevista entremeada com música: ‘Johnnie Walker com Gigantes’, apresentado pela gracinha da Lorena Calábria (Mitsubishi FM).
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36) Melhor (único?) programa de música étnica do rádio: ‘Nômade’, apresentado pelo Paco ‘Pepe Le Gambá’ Pigali (OI FM, segundas, às 23:00h).
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37) Melhor retorno de programa de rádio na internet: Garagem (http://www.tvshowlivre.com.br/garagem/).
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38) Melhor cocada ever tasted: a cocada com leite condensado do bar-mercearia próximo do mercado de peixe, na Ponta da Praia, em Santos. O lugar, tradicionalmente, é um pit stop de hidratação com água de coco, durante a Parada Irada.
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39) Melhor show: Karnak, no SESC Pompéia.

Piores
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1) Pior progaganda: aquela de carro, com trilha do AC/DC. Incrível o poder de concisão da mensagem veiculada. Em poucos segundos consegue sintetizar alguns dos padrões de comportamento e valores mais abomináveis e detestáveis de uma classe média imersa e submersa num mundinho coisificado (consumismo exacerbado, competição, sucesso profissional , imagem, etc).

2) Pior apresentador de programa cultural: o apresentador do Metrópolis (TV Cultura). Pior do que os engraçadinhos de plantão são aqueles que se acham engraçadinhos.

3) Pior âncora de programas jornalísticos de rádio e TV: Carlos Alberto Sardenberg. Não dá! Não engulo. Seus comentários acrescentam pouco às notícias e, tecnicamente, sua dicção não condiz com a função.

4) Pior programa paga-pau de metrópole gringa: ‘Lugar Incomum’ (Multishow). A Érica Mader exagera no gênero ‘Oooh hooh! Estou adorando Nova York!’

5) Cantora mais malinha: Mallu Magalhães. Surgiu como prodígio no mundo indie. Aos poucos foi sucumbindo ao mercado e adotou um estilo pseudocool-molenga-enjoado. Provavelmente influenciada pelo namorado hermano.

6) Cultura inútil: resumo da novela, exibido nas TVs instaladas em alguns ônibus de SP.

7) Cantora mais fabricada: Lady Gaga. Me lembra um episódio do desenho 'Os Flinststones' no qual o Dino, cão da família, se apaixona por uma cachorra-atriz. O encanto desaparece quando ele a vê no camarim, tirando os cílios postiços e a maquiagem, ou seja, descontruindo a imagem de estrela. A Lady Gaga é assim. Montada dos pés a cabeça, por uma indústria voraz que adora (e necessita) vender ‘produtos’ com rótulos do tipo 'a nova Madonna'. Quantos verões ainda vai durar?

8) Banda Cine. Letras rasas, rimas sofríveis, criatividade 'zero'. Pegando carona no numeral, a banda consegue ser pior que a seu congênere NX Zero.

9) Maria Gadú. O mundo não merece mais uma cantora genérica da MPB com seus grudentos e horrorosos 'shimbalaiês'.