Marcos Pereira on-line

22 março 2011

Melhores de 2010



Imagem do ano: 200.000 Km do meu carro

Carnaval tardio e, consequentemente, 2011 só cameçando em março.
Então, é mais do que hora de repaginar 2010. Let´s do it ...

No esporte, a seleção de futebol do Dunga fracassou e a seleção de vôlei do Bernardinho triunfou. Novamente venceu e se sagrou tri-campeã mundial. Embora sem o mesmo brilho de outros tempos e com a mancha da polêmica ‘entrega’ de jogo para a Bulgária, o time se reinventou mais uma vez e bateu a favorita seleção de Cuba, na final.

Entre os vários melhores do cinema do ano, ‘Mary & Max’ foi o melhor. Trata-se da história de uma garotinha que mora no interior da Austrália e um homem de meia-idade de Nova York. Ambos sozinhos. Mais que isto, solitários. Por acaso, começam a trocar correspondência e daí surge uma amizade que perdura por anos. Adjetivos para qualificar o filme-animação? Engraçado, terno, fraterno, sensível e comovente. Principalmente o final.

Dos nacionais, ‘As Melhores Coisas do Mundo’ surpreendeu positivamente. Ao ver o trailer, pensei ser um mero filme sobre jovens de classe média-alta dos Jardins, criados com leite tipo A, que vivem numa bolha, isolados da realidade social brasileira. Em parte é isso. Mas vai além, ao lidar com dramas e inquietações que afligem os jovens, o quê em muitos casos independe de classe social. Quem assina a direção é a competentíssima diretora Laís Bodanski, já ‘premiada’ aqui neste blog outras vezes.

E estes roteiristas americanos de seriados de TV são demais. ‘House’ continua reinando absoluto entre as séries. Quando se imagina que o seriado vai ficar no mesmo lenga-lenga, eles sacam da manga um episódio diferente e irreverente. ‘Two and a Half Men’ cativa o espectador ao confrontar situações envolvendo o bon vivant Charlie com o irmão loser. Seres diametralmente opostos.

E o melhor show do ano foi um pocket, um pocket show. A área de convivência do SESC Consolação ficou pequena para comportar a galera que cabulou aula no vizinho Mackenzie para ver a melhor combinação samba-rock + nova vanguarda paulistana (Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Céu, etc.): Curumin. Mesmo com curta duração (30 minutos, afinal se tratava de um pocket show) e realizado em dia e horário incomuns (quinta, às 20:00h), os grooves emanados da bateria do cantor e do som tirado pelo seu camarada, nos comandos do famoso notebook do logo da maçã reluzente (MacBook), levantaram a galera.

E chegamos ao final da edição ‘Melhores’ do último ano da primeira década do século XXI.
Próximo ano tem mais.
Que venha (já veio) a próxima década!

Melhores
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Imagem mais Tóquio-cinematográfica em SP: visão panorâmica ao dirigir o carro pelo Minhocão (elevado Costa e Silva), no sentido centro-bairro. Tem-se a sensação de que, a qualquer hora, o Godzilla vai sair por detrás de um daqueles prédios enormes que margeiam a via.

Risada mais bacana: a risada da Giovanna, um mix da risada do Zacarias (Trapalhões) + risada amarela do Tutubarão (“Nhac, nhac, nhac. Xi, não tem mais respeito!’) + riso gráfico da internet (hihihi).

Imagem do ano: marca dos 200.000 Km rodados, do meu carro.

Plano estratégico mais espetaculoso: operação ‘Gavião-Cumbica’. Esforço hercúleo (compra de passagem aérea + ingresso), digno das mais pirotécnicas operações da PF, objetivando botar o bumbum de um amigo corintiano na arquibancada úmida do maior do mundo (Maracanã), numa partida mata-mata contra o time de maior torcida do Brasil (Flamengo). Tudo muito grandioso. Tudo muito over. E o Corinthians perdeu. Apenas um detalhe.

Melhor ‘double street cross’ (travessia de rua dupla): travessia cruzada da confluência formada pelo encontro da rua da Consolação x Av. São Luis x Av. Xavier de Toledo. O tempo do farol fechado para os carros é exatamente o tempo para fazer a travessia dos dois cruzamentos, em diagonal. Sensação parecida como (imagino deva ser) fazer um touch down ou atravessar de uma calçada para outra sem ser pego, na brincadeira ‘mãe da rua’.

Expressão para momento de solidão: ‘momento all by myself’. Quando alguém está sozinho, reflexivo, amuado num canto, sem falar com ninguém, diz-se que tal pessoa está no seu ‘momento all by mylself’ (alusão ao hit setentista do Eric Carmen, que virou hit noventista na voz da Celine Dion).

Melhor revival de música BG do programa Garagem : ‘Hortolândia’ (Noel Fernandes Serturbano).

Melhor música do especial em homenagem ao John Lennon, do programa Garagem:
‘Eu Sonhei com John Lennon’ (Ciço Gato).

Melhores músicas com temática espacial do século XX: ‘Marcianita’ (Caetano ‘desbundado total’ Veloso e Mutantes) e ‘Rocket Man’ (Elton João).

Melhor música: ‘Só Sei Dançar com Você’ (não a do CD, mas a versão do programa ‘Ronca-Ronca’, da Oi FM) – Tulipa Ruiz.

Melhor show: Curumin, na área de convivência do SESC Consolação.

Melhor cenário de show ao vivo: Praça Júlio Prestes – Luz, Virada Cultural.

Melhor acústica de show ao vivo: Céu, na Praça Júlio Prestes – Luz, Virada Cultural.

Melhor show nacional da 'Virada Cultural do Interior': Zeca Baleiro, praça Mauá, Santos-SP.

Melhor show internacional da 'Virada Cultural do Interior': Manu Chao, praça Mauá, Santos-SP.

Melhor filme-animação: ‘Mary & Max’.

Melhor música em filme: ‘O que será’ (do filme ‘Mary & Max’).

Melhor filme nacional: ‘As Melhores Coisa do Mundo’.

Melhor filme infantil para gente grande: ‘Onde Vivem os Monstros’ (melancolicamente reflexivo).

Imagem indie-fofa-retrô. No guichê da rodoviária do Tietê, um grupo de minas, entre elas uma tchutchuca-visual-supostamente-indie-carioca, portando violão e o vinil ‘With The Beatles’ debaixo do braço.

Melhores ‘vinhetas’ utilizadas em programas esportivos de rádio: O vigoroso ‘não!’ e a risada do Mauro Betting, na rádio Bandeirantes.

Maior melhoria no iPod nano: incorporação de rádio FM na 5ª. geração do aparelho. O rádio do iPod é melhor que todos os que outras marcas já fizeram em toda a história.

Melhor filme para se ver na TV, no marasmo de uma noite de Natal: ‘500 Dias com Ela’. Ainda que dublado (hirrc !!!), o filme permanece sensacional.

Música que eu cantaria num karaokê, se eu não abominasse karaokês: ‘She Believes in Me’ (Kenny Rogers).

Melhor grupo de peças infantis: BANDAmirim (se escreve tudo junto e ‘BANDA’ em maiúsculo).

Melhor peça infantil do melhor grupo de peças infantis: ‘Espoleta’.

AUTO-CENSURADO
Transição mais sensual de cantoras no palco de um show, no SESC V. Mariana: Anelis Assumpção entrega o palco para a apresentação da Céu, cantando e interpretando ‘I Want You’ (Beatles). Energia sexual pura, em forma de música. Postura cênica e instrumentos interagem numa sinergia ‘mui caliente’. Contrabaixo emulando movimentos pélvicos circulares e a acordes de guitarra suntuosos, como que conduzindo estocadas a meia-força, culminando com baquetas em fúria. Catarse e gozo profundo.

Expressão cunhada no ano: ‘wanna be’. Quando se quer dizer que determinada pessoa é metida.

Expressão bonita (bela combinação substantivo + adjetivo), que espero usar depois de procurar no dicionário o significado do adjetivo onírico: universo onírico.

Melhor palavra derivativa (processo de justaposição?): destamanhos. Palavra refinada que espero, algum dia, poder encaixar em algum contexto.

Piores
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Jornalista de rádio esportivo mais inconveniente: Alexandre Praetzel. Assim como alguns de sua classe, ultrapassa a linha tênue entre contundência e a inconveniência.

Atração pseudo-lúdico-circense-engajada em novela. ‘Teatro Mágico’ na novela das 9. O Juizado de Menores pegou no pé da Globo por colocar uma criança no papel de vilã-mirim, na trama das 9. Para a missão de exorcizar e infantilizar a imagem da menina, convocaram a trupe do ‘Teatro Mágico’. Menina-vilã + ‘Teatro Mágico’ na novela das 9? A menina-vilã sozinha seria menos assustadora.

Nome de programa de governo que mais parece título de novela mexicana: “Minha casa, minha vida”.

Pior ator brasileiro ever: Murilo Benício. Ele se superou no papel de um horroroso Victor Valentim, em TI-Ti-Ti.

Música fraterna incompatível com o propósito capitalista de instituição financeira: ‘Imagine’ (John Lennon), na propaganda do Itaú.

Propaganda com teor ameaçador de péssimo gosto: Bradesco Seguros (“vai que ...”).

Programa feminino: ‘Papo Calcinha’: se pretende ser a versão feminina do (que se imagina ser) papo de boteco. Aqui, elas (apresentadoras?) super se permitem discutir suas experiências sexuais. As falas artificiais não convencem ninguém. Para enfatizar o sex appeal de suas aventuras sexuais, as moças lançam mão da palavra ‘super’ , antes do verbo reflexivo. Por exemplo: ‘eu super me gosto’, ‘eu super me toco’, etc.

Estrago no parque mais rural-bucólico (jeca) de SP: Obras de ‘recuperação’ do parque da Água Branca.

Música requentada para levantar grana por (mais) uma causa humanitária: regravação de 'We Are the World'. Causa da vez, Haiti.

Entrevista de rádio mais non-sense: Fabíola Cidral entrevistando a cantora indie Lulina. Perguntas de jornalista padrão CBN para a prefeita do mundo lúdico da Lulilândia. Nada mais surreal.

Cantora: Beyonce. Quando a música vira clipe de lingerie. Chato, muito chato!

Música: ‘Whaca Whaca’ (Shakira). Quando a música vira um requebrado frenético. Chato, muito chato!

Apresentadores de rádio engraçadinhos: Alessandra Lopes e Fábio Lima, do ’Eldorado Rádio Blog’. O programa é razoável. Incomoda a tentativa de criar um estilo cômico para se aproximar do ouvinte. Não cola! E os temas sugeridos tendem ao discurso populista vazio. Coisas do tipo ‘o que você acha dos deputados concederem aumentos a si próprios?’ .

Rádio indie fora do dial santista: Oi FM de Santos. Foi bom enquanto durou. Era questão de tempo para sair do ar. Brincar de jardinagem ao som de ‘Calça de Ginástica’ (Kassin)? Agora, só em MP3.