Marcos Pereira on-line

21 abril 2009

Melhores de 2008

Lucas, eleito novamente o sobrinho do ano

Pois é! Passou o carnaval, passou a Páscoa e, antes que 2009 passe, vamos à tradicional lista de melhores do ano.

Comecemos pelo dial. Não bastasse a Sul-América Seguros, em 2008 outras duas empresas privadas invadiram as ondas do rádio: Oi e Mitsubishi. Apesar de lucrarem às custas de concessões públicas, ao menos elas contribuem como opção à mesmice de suas concorrentes. De início, torci o nariz para a Oi. Parecia uma rádio amorfa, cuja proposta era ser diferente apenas para não ser igual (às outras). Mas, de fato, ela é diferente porque é indie-pop A programação transita do pop baba ao ecletismo do subgênero indie ‘de boa’. Por lá, já ouvi os novos ‘Vampire Weekends’ e ‘Ting-Tings’ (faixas da coletânea ‘Mauro Jorge Hits Mix 2008). Já a Mitsubishi é um tipo de clone da Eldorado. Tem o mesmo DNA. O mais irritante na Mit, para os íntimos, são o slogan e os nomes dos programas. Coisas do tipo ‘a rádio pra quem é quem 4 por 4’ e ‘Pajero 200’ parecem feitas sob encomenda para forjar uma ligação com o seu suposto público-alvo. Será que funciona? Espero que não. Em tempos de sustentabilidade, carros potentes agravam ainda mais a poluição atmosférica e, consequentemente, seus efeitos danosos à população.

No cinema, destaque para ‘A Culpa é de Fidel’. O filme narra a história de uma família, cujos pais são engajados na luta socialista, em pleno período de ditadura no Chile, pós-Allende. Mas aqui, nesta película, as impressões do mundo exterior perpassam pela ótica da menina Anna, que não entende muito bem o que se passa ao seu redor. Alternando candura e birra, a menina expressa o conflito entre a lógica ingênua do mundo de criança, contrastando com a dureza dos comunas barbudos. Para eles, até o Mickey Mouse é considerado um agente subversivo do sistema capitalista. Um filme bacaninha também foi ‘Beijo Roubado’, uma espécie de tradução para o Ocidente dos filmes do diretor Ang Lee, filmados na Ásia. Transposto para o lado de cá de Greenwich, perde em intensidade, mas vale pela Norah Jones.

No Brasil, o melhor foi ‘Chega de Saudade’. O filme é um delicioso passeio por uma noite num clube de dança de salão. A sua maior virtude é captar e reproduzir a atmosfera dos relacionamentos, encontros e desencontros que acontecem num baile de meia e terceira idades.

Meio que fora de contexto, fica aqui registrado também o meu apreço pelo filme-ação-pipoca ‘A lenda’. Como é de se esperar neste tipo de filme, o herói, desta feita encarnado na pele do mega-astro-afro-descendente Will Smith, salva o planeta. A trilha sonora, composta de clássicos do Bob Marley, conduz uma certa mensagem auditivo-subliminar-pacifista.

Faltou pouco, porém o time brasileiro não conquistou o bicampeonato olímpico no voleibol masculino. Um pouco antes da olimpíada, nas finais da Liga Mundial, o time já dava os primeiros sinais de declínio. Nalbert e Ricardinho fizeram muita falta. O time jogou sem alma. O vôlei feminino foi o grande vitorioso do certame. Depois de bater na trave algumas vezes, o time venceu os E.U.A. na final olímpica. Méritos para o Zé Roberto Guimarães, que ressurgiu do fiasco de 2004 e se consagrou como o único técnico campeão olímpico nas modalidades masculino (1992) e feminino de um mesmo esporte (voleibol indoor). No futebol, a imagem mais embasbacante e emblemática do descaso e desrespeito do jogador brasuca-europeu em relação à seleção vem do pódio. Enquanto a seleção recebia a medalha de bronze olímpica, o Ronaldinho Gaúcho atendia o celular.

Na marasmo da TV aberta, até que surgiram algumas propostas inovadoras na área de humorísticos. O programa CQC, inovou ao misturar humor com jornalismo. É esperto, ágil; tem lá as suas boas sacadas. Só que peca pela overdose de estímulos visuais e auditivos, comparáveis àqueles dos desenhos japoneses que provocam convulsões em criancinhas. Já o ’15 minutos’ é mais econômico - inclusive no tempo de duração – e aposta principalmente no talento do Marcelo Adnet. O cara manda muito bem no improviso e nas imitações mais inusitadas, como, por exemplo, o Silvio Santos cantando ‘Sweet Child O’ Mine’ do Gun´s & Roses. Outra grata surpresa na MTV foi o ‘Quinta Espetacular’, que misturou os antigos da casa (Cazé e Mion) com os emergentes do humor (Dani Calabresa, Madame Mim, Willian Bomboner, e o hilário e desconcertante Mister Lúdico, com suas letras de métricas cumpridas e arrastadas).

Então, lá vai a lista de melhores ...

1) Melhor pipoca caseira para se levar ao cinema: a da Soraia, representante feminina do clã dos ‘Cunha’, na lista.

2) Momento energético mais simbiótico, emanando energia para o cosmos: o círculo formado pela união dos dedos médios do Lucas, Henrique, Viva e meu, numa manhã, quase madrugada, do mês de janeiro, na travessia da balsa Santos-Guarujá.

3) Personalidade ultra cool: Henrique, representante adolescente do clã dos ‘Cunha’, na lista.

4) Melhor saquinho para embalar jornal: o da banca da rua Frei Caneca, localizada entre as ruas Luís Coelho e a Antonio Carlos.

5) Melhor filme estrangeiro: a ‘Culpa é de Fidel’.

6) Melhor programa de turismo na TV : ‘Passagem Para...’ (Canal Futura). O apresentador Luís Nashbin interage naturalmente com os cidadãos dos locais visitados.

7) Melhor programa de auditório: ‘Quinta Espetacular’ (MTV).

8) Revival do ano: ‘Pantanal’. A primeira semana da novela é um primor. Exibe com primazia as diferenças culturais cidade-campo, representados pelo peão xucro Zé Leôncio que seduz ‘moderninha’ Madeleine.

9) Melhor zona de confluência de bairros para se caminhar em São Paulo: a) centrão – b) Santa Cecília – c) Higienópolis – d) Consolação – e) Pacaembu. É como uma escala cromática. O centro é dark, o largo de Santa Cecília lembra o Rio Vermelho (Salvador), Higienópolis é a nata da classe média-alta, a Consolação é híbrida e o Pacaembu, charmoso.

10) Melhor filme brasileiro: Chega de Saudade.

11) Melhor filme estrangeiro: A culpa é do Fidel.

12) Melhor documentário nacional reprisado na TV: ‘Doutores da Alegria’. sensível, humano e comovente.

13) Melhor ex-locutora de rádio rock zumbi (Brasil 2000), atual locutora da rádio Eldorado: Paula Baldassarri

14) Melhor carrinho de supermercado: o do Futurama da Av. Pedroso - os pneus, de borracha, deslizam suavemente pelo chão e permitem manobras rápidas e precisas.

15) Melhor bordão de programa de TV: ‘Noossa!!!’ – pronunciado com a cabeça levemente inclinada, por um arroz de festa anônimo, no Pânico.

16) Cantora mais gracinha, com o nome mais gracinha: Karina Buhr.

17) Melhor ‘projeto’ musical: 3 na Massa.

18) Sobrinho do ano: novamente o Lucas.

19) Melhor slogan de rádio: Aqui você ouve as mais pedidas, as menos pedidas e as nunca pedidas (Oi FM).

20) Melhor show: Totó la Momposina (Colômbia), dentro do evento ‘Mulheres do Sol’ no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).

21) Time do coração, durante a Copa Libertadores da América de 2008: Fluminense

22) Momento mais estranho: abordagem para dançar ‘Borbulhas de Amor’, no festival de Pinga de Angra dos Reis.

23) Melhor e mais hilária reportagem de TV sobre um menino carente e seus percalços para chegar è escola: ‘Charlinho’, Hermes & Renato (http://www.youtube.com/watch?v=B6Vyhtvpp4k).

24) Melhor almoço de sexta-feira com temas variados: almoço com o Edu, o representante patriarca do clã dos Cunha, na lista.

25) Candidata à vereadora mais esdrúxula: Rainha Naja, defensora dos ‘alternativos’. Seu lema é ‘vamos pisar no preconceito’.

26) Melhor amiga de ‘papo-de-amiga’, nos cafés do trabalho: a poderosa Tânia.

27) Melhor blog do universo masculino, sem ser machista: papodehomem.com.br. Se as mulheres conquistam o seu espaço, nada mais natural do que o homem manter o seu.

28) Melhor região de circulação de posers e outsiders, em SP: Baixo Augusta. Os primeiros (posers) freqüentam o lugar para serem vistos. Já os outsiders são os cults, ex-BGs, pós-modernos e outros bichos da fauna da cena alternativa.

29) A música mais ou menos do ano: Human, do Killers. Na falta de uma melhor música, esta foi a melhorzinha.

Bônus Tracks - Piores
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1) O apresentador mais mala da TV: Ronnie Von. Faz o gênero sabichão. Se utiliza da tática de pegar carona nos comentários dos especialistas, endossando suas opiniões, seja o assunto moda, Física Quântica ou cogumelos.

2) Ator mais teletube: Dan Stulbach. (*)

3) Atriz mais teletube: Denise Fraga.

4) Minissérie com os atores mais teletubes: ‘Queridos Amigos’.

5) Revelação musical mais oscilante: Mallu Magalhães. Nos meses de janeiro e fevereiro despontou como o novo prodígio da música indie-pop. O tempo foi passando e ela acabou nas garras do mercado, absorvida e deglutida de forma feroz pela mídia. Virou estrelinha e ficou malinha.

6) A chatinha da Olimpíada: Maureen Maggi. Toda olimpíada tem a sua queridinha da vez, eleita e bajulada pela imprensa brasileira, especialmente a rede Globo. Em 2008, a chatinha foi a Maggi. Como diria um nada politicamente correto comentarista, num programa da ESPN Brasil: ‘até que ela dá um belo caldo’.

7) Releitura ‘nada a ver’ do ano: Fernanda Takai regravando Nara Leão. A original possuía vez macia, aveludada. A Fernanda tem voz frágil, pequena, sem corpo. Prefiro a sua voz a serviço do rock-farofa no Pato Fu.

8) Rádio hard-news mais hard: CBN. Ainda é uma referência em rádio-jornalismo. O problema é que peca na excessiva cobertura de assuntos do momento. Não há quem aguente todo o tempo ouvir entrevistas e o ‘Repórter CBN’ martelando sobre a crise financeira mundial.

9) Maior feirão de prêmios em programa cultural na TV: Metrópolis. Distribuir prêmios tudo bem. Mas tornar isto um atrativo desvirtua a proposta do programa.

10) Banda internacional com o vocalista mais mala: Coldplay. Como escreveu o Álvaro Pereira, no Folhateen, ninguém merece o Chris Martin pagando de louquinho no clip de ‘Viva la Vida’.

(*) Fonte: Leandro