Marcos Pereira on-line

19 março 2006

'O bem e o mal', estrelando Anakin Skywalker, Roberto Jefferson, Raul Seixas e Jack Bauer

Nota do blogueiro:
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A idéia central do post abaixo foi concebida em junho de 2005.
Deixei ele engavetado por pura preguiça de finalizá-lo. Só hoje, meses depois, o fiz, pois não queria deixar passar em branco o registro de impressões por mim abstraídas a partir do filme 'Star Wars'.
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Existe uma tendência inerente à natureza humana que é classificar pessoas e ações como sendo do ‘Bem’ ou do ‘Mal’. Ao assistir o último episódio da recente trilogia de ‘Star Wars’, lembrei de situações reais e fictícias que abordam, direta ou indiretamente, esta tendência maniqueísta do ser humano.

A masturbação boteco-filosófica começou quando eu estava em Santos e chamei o Lucas - não o George, dono da marca “Star Wars”, mas sim o meu sobrinho e melhor amigo de 15 anos, que mora em Santos – para assistir à badaladíssima película. No início do filme muita ação, muitos efeitos especiais, cenas de luta, enfim clichês típicos de filmes de ação. Para mim, o melhor estaria por vir: a trama psico-emocional, o grande mote deste terceiro e último episódio que encerra esta trilogia. Como teria o jovem Anakin passado para o lado sombrio da força? A bem da verdade, os jedis, o lado do bem, nunca engoliram o jovem Anakin. As suspeitas se confirmaram quando ele abandonou o barco do ‘Bem’ e passou a integrar o elenco do ‘Mal’, a pretexto de salvar a sua amada Padme – papel interpretado pela maravilhosa Natalie Portman, provando que também se sai bem em blockbusters; ela esteve em Closer, lembra? Tadinho do Anakin. Ele só fez por amor.

Fora das telas, direto para o Planalto Central, mais especificamente para a CPI dos correios, o ‘nobre’ deputado Roberto Jefferson atira a sua metralhadora de denúncias para todos os lados. Adotando a estratégia ‘a melhor defesa é o ataque’, o ‘digníssimo’ traz à tona, via TV Senado, o lado podre (sombrio) do governo Lula. O PT, outrora porta-voz da indignação do povo brasileiro, chegou ao poder, usa e abusa do tráfico de influências e se lambuza nos favos da corrupção. E o populista Roberto Jefferson assumiu para si o papel de paladino da justiça. Lula, totalmente perdido, parece hibernar como um urso no inverno. Os papéis se inverteram. O PT de Lula agora é do mal e o direitista Roberto Jefferson é do bem.

Saltando para a música, neste mês várias homenagens estão sendo rendidas a Raul Seixas. O maluco-beleza faria 60 anos se vivo fosse. Seu parceiro no auge da fama, Paulo Coelho, hoje é membro da Academia Brasileira de Letras. Quanta ironia: Raul está morto e Paulo Coelho é um ‘imortal’. Existe uma passagem interessante no livro ‘As Valquírias’, em que o Paulo Coelho conta que ele e o Raul ‘brincavam’ com magia negra. No bojo da psicodelia hippie nos anos 70, eles só queriam experimentar e achavam que os rituais da Sociedade Alternativa não teriam maiores conseqüências. Segundo Paulo Coelho, os dois foram chamados a prestar contas com o lado sombrio. Paulo Coelho implorou clemência ao ‘lado do Bem’ e, a julgar pelo estrondoso sucesso mundial de sua literatura questionável, se deu muito ... bem, obrigado. Já o Raul, morreu de forma inglória, consumido pelas drogas e álcool. Morreu fisicamente, pois continua muito vivo dentro daqueles que não se cansam de pedir nos shows ‘toca Raul’.

E este textículo não poderia terminar sem ele, o meu herói contemporâneo: Jack Bauer. Como diz o (competente) colunista deslumbrado Lúcio Ribeiro, o seriado ’24 horas’ se autoplageia a todo instante, mas continua surpreendendo. Bacana, muito bacana. Impressiona, nesta temporada, as referências ao atual momento mundial, principalmente à síndrome do medo terrorista do povo americano. Num dos episódios, o ‘Air Force One’ avião do presidente, é atingido por um caça invisível aos radares, roubado por uma facção terrorista. Totalmente despreparado para o cargo, o vice-presidente assume o comando. Aliás, este vice lembra muito o Bush, um pseudo-líder sem pulso forte para comandar uma nação em momentos difíceis. A única fonte que poderia levar ao líder terrorista Marwan, não pode ser interrogada devido à intervenção da Anistia Internacional a seu favor. Convocam então o cagão presidente em exercício para autorizar o interrogatório – entenda-se tortura – passando por cima da Anistia Internacional. O cagão vacila e pede tempo. Sabe aquela opção dos softwares que rodam sob o Windows, ‘save as’? Pois é! O vice-presidente segue um lema quase parecido: ‘save my ass’. Olha só a situação: a Anistia Internacional, que supostamente é do ‘Bem’ protege o suposto ‘Mal’ e o presidente americano, ‘ do Bem’ fica em cima do muro. Quem salvará o mundo - entenda-se Estados Unidos da América - do terrorismo? Jack Bauer, é claro!

Como diria Einstein – se é que disse - tudo é relativo!