Marcos Pereira on-line

09 março 2005

Black & Jack - O vôlei venceu, a nação black cresceu e Jack Bauer ... chorou


Com um delay de alguns meses – note que muita coisa aconteceu desde então; o Brasil foi campeão olímpico no vôlei masculino e já começou a 4ª temporada do ‘24 Horas’ -, reproduzo aqui o texto que escrevi no ano passado (2004) sob efeito das sensações gozosas provocadas por temas que me tocam.

----------------------------------------------------------------------------------

Desde adolescente sou um amante inveterado do voleibol. O esporte pode ser resumido a uma luta constante do homem contra a inexorável lei da gravidade. O princípio é básico: evitar que a bola toque o solo. Não há contato físico entre as equipes; o desafio é a própria superação. Para a nossa alegria, atualmente a seleção brasileira masculina desponta como o melhor time do mundo. Sob o comando do obstinado técnico Bernardinho, o time chegou em quase todas as finas dos campeonatos que disputou (com exceção do tropeço no Panamericano, quando perdeu para a inexpressiva Venezuela), vencendo a maioria dos títulos.

Ontem foi dia de outra final, desta vez na Liga Mundial de vôlei: Brasil x Itália. Dá gosto ver um time tão unido e vitorioso. Individualmente todos são feras e, coletivamente, o time joga por música, harmoniosamente, como uma valsa de Strauss. André Nascimento, com o seu característico e indefectível vôo rasante de pombo sem asa, detonou no ataque. Giba, o galinho de briga, todo estiloso com a sua tiara, anulou o enjoado canhoto Sartoretti no ataque do time italiano. Anderson é o nosso black power (sem cabelo). E dá-lhe potência no ataque! E viva a comunidade afro!!! Os atacantes de meio Gustavo e André Heller seguraram bem a onda, virando bolas importantes. E o Dante? O cara teve a missão de substituir o raçudo capitão Nalbert. E deu conta do recado direitinho. Sem esquecer do melhor líbero do mundo, o Sérgio “Escadinha”, defendendo bolas incríveis. Comandando como um maestro esta verdadeira orquestra, está o ousado e talentoso levantador Ricardinho.

Empolgado com a vitória do Brasil, fui passear num dos points-cabeça da galera paulistana descolada. Dentro do já tradicional ‘agosto negro’, a praça Benedito Calixto, em Pinheiros, abrigou um evento de hip-hop. Pretos brasileiros, inspirados nos afro-americanos lá do norte, exalavam energia. Num palco montado na praça, DJs se revezavam no comando das pickups. A galera vibrava com os chapantes scratchs e back-to-backs do DJ Milk. Ao lado do palco, numa mini quadra de basquete “os mano e as mina” com shortões uns dez números acima e camisetas estampando emblemas das equipes da NBA, disputavam um campeonato, mais fashion que propriamente esportivo. Numa das tendas armadas na praça, rolava uma black music espertíssima (50 cent, Fat Joe, B2K, Snoopy Dog) e duas TVs exibiam um vídeo com as sensacionais jogadas acrobáticas do Michael “Air” Jordan. Black is beatifull!

Hoje é o day after, uma segunda-feira, “dia de branco” – abomino esta expressão; apenas a utilizei como recurso, no bojo da estilística do texto, para contrastar com o black do parágrafo anterior. Mais que uma segunda-feira comum, foi um dia gélido em São Paulo. Um frio cortante penetrava pelos poros, desrespeitando as jaquetas e casacos mais isolantes. Só me restava o consolo de esperar o dia passar, a noite chegar e Jack Bauer triunfar. Aquela seria a última hora, ou o último episódio da 3a. temporada do seriado “24 Horas” .

Depois do meu super-herói clássico, o Superman, hoje foi o dia do meu super-herói contemporâneo e cosmopolita, Jack Bauer, salvar o mundo - entenda-se os E.U.A. - de uma epidemia virótica de proporções apocalípticas. Já repeti over and over sobre o enredo do seriado “24 horas”, mas não custa repetir mais uma. Durante um dia, Jack Bauer, um agente que trabalha para a agência antiterrorista UCT, é submetido a um turbilhão de situações limite. O mocinho salva o mundo sem, contudo, perder la ternura. O comovente é que desta vez, após finalizada a missão, ele chorou. Não é para menos, pois num período de 24 horas Jack Bauer foi obrigado, entre outras coisas, a executar o seu chefe e sacrificar a machadadas uma das mãos do seu colega-quase-genro. Foi um choro contido, preso, mas não menos comovente. Como nas anteriores, nesta terceira temporada, aconteceu de tudo. Jack começou o dia viciado em heroína, tomando vários picos na veia, e terminou chorando. Afinal, os super-heróis também choram sim senhor, meu amor.

Rendo os meus sinceros agradecimentos aos meus ídolos que fizeram de um fim-de-semana e de uma segunda-feira fria e sonolenta de inverno, dias coloridos... e black também.