Marcos Pereira on-line

16 março 2007

Viva as mulheres!


Perfeito! Um pouquinho atrasado, uma semana depois do dia internacional da mulher, hoje as mulheres mostraram o seu power to the people. No evento Francofonia, promovido pelo SESC Santana, se apresentaram a Ceumar e a franco-canadense Ariane Moffatt.

Coube à Ceumar representar (e muito bem!) o Brasil no evento. Junto com ela, estavam a performática percussionista Simone Soul e, no contrabaixo, a minha diva Lelena Anhaia. Ela toca o instrumento com uma cadência sensualíssima. Pago móu pau pra Lelena, a orquídea do Brasil mais charmosa, dentre todas. Ops! Where was I? Ah! Voltei do devaneio platônico.

A maioria das músicas cantadas pelo Ceumar são novas e bem bacanas. Entre as já clássicas do repertório ceumaríco, rolou ‘O Seu Olhar’, ‘Rãzinha Blues’ e ‘Oferenda’, oferecida especialmente para a sua sobrinha que fazia 16 aninhos (que fofa!). Aqui cabe um aposto (Gramática, lembra?) para definir a Ceumar (escrevi lá no Yakult e vou repetir aqui porque gostei): além de ser super talentosa e carismática, o que mais me encanta na Ceumar é a espontaneidade com que ela deixa fluir a música. Para ela, cantar é tão natural quanto respirar. Falei e disse!

Fim da primeira parte da noite e as 3 brasileiras se retiraram do palco do SESC Santana. A iluminação apagou, mas o palco continuou aceso, pois um notebook e vários pedais de efeitos, envoltos num emaranhado de fios, faziam mil luzinhas piscar. Segundo meus cálculos abalizados, a parafernália eletrônica consumia uns 731,59 Kwh.

Segundo tempo da noite. Entra em cena a franco-canadense Ariane, tão alardeada no release do SESC. Ela se senta ao piano e começa a produzir sons de papel sendo rasgado, palito de fósforo riscado e coisas do gênero. Então, ela liga um aparelhinho (acho que um seqüenciador) acima do piano, do qual saem uns sons estratosféricos. Xi, Marquinho! Já vi este filme antes. Aliás, este início de apresentação lembrava bem os filmes-cabeça franceses, recheados de experimentalismos. Por um instante, achei que a moça teria dificuldades para segurar a onda, depois da sensacional apresentação da santa-trindade-musical-feminina-brazuca.

A Ariane dividiu o palco com um tecladista que ora operava e tocava o notebook, ora tocava um teclado. O terceiro elemento da banda, um guitarrista, também tinha lá o seu arsenal de pedais. Bastaram alguns poucos minutos para a canadense mostrar seu talento ao piano e desfazer a imagem distorcida que eu havia feito a seu respeito. E o som que ela faz é exatamente um dos que eu mais gosto ultimamente: a mistura do acústico com o eletrônico. O eletrônico entrando pianinho (sem trocadilhos com o instrumento), como complemento, para conferir uma atmosfera etérea à música. Tipo-assim, amiga, o som é bem ‘muderno’.

Para encerrar a noite, todos, exceto o guitarrista, se juntaram numa jam para cantar ‘Águas de Março’, em mezzo francês, mezzo português e mezzo laralá-laralá, no maior clima 'we are the world'. Cara! Que demais! Já nos acréscimos, a Ariane apareceu para autografar os CDs e lá fui eu pagá móu pau pra mina. Por uma destas coincidências do acaso (sincronicidades?), reencontrei a Malú, uma antiga conhecida de caminhada peregrina, que participou da organização do evento e me conduziu até a moça. Depois veio a Ceumar e eu, todo bobão, perguntei se no próximo CD ela vai gravar ‘Oferenda’ (Itamar Assumpção). Ela respondeu que sim. É esperar para ver... e ouvir.

Noite memorável!

Viva as mulheres!
Vive les femmes!

E VIVA ZAPATA !!!
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P.S.: De quebra, enquanto rolava o show, baixou inspiração para ‘inventar’ o presente da Lívia, a minha prima-mais-amiga, que completou os seus doces e indeléveis 16 aninhos no dia 8 de março, o dia internacional da mulher.

P.S.II: Inacreditável que eu paguei só R$ 15,00 ao todo, incluindo o estacionamento e o cafezinho. Este sim é que é um legítimo programa BBB: bacana, bonito e barato.

04 março 2007

Saigo, você é o meu herói!

Cartas de Iwo Jima é um filme sobre um episódio ocorrido na II Guerra Mundial. A princípio, parecia ser mais um filme da categoria de guerra. O diferencial deste, é que a história é contada pelo lado normalmente chamado de inimigo: os japoneses. Fui assistir meio que para cumprir a minha obrigação de aprendiz de cinéfilo. Digamos que até a metade, muitas bombas ‘explodem’ pelo cinema – culpa do eficiente, porém barulhento, sistema Dolby Surround!. Ainda assim, o japonesinho Saigo fazia o controponto com algumas graças e segurava a onda, em meio aquele quadro dantesco de guerra.

O filme cresce em dramaticidade quando, paulatinamente (adoro este advérbio de modo, não me canso de repetir), as histórias dos personagens são descortinadas por meio de flashbacks. O Saigo, por exemplo, é um destes anônimos da guerra. Um cidadão comum que é convocado a defender a sua nação da ameaça inimiga. Como o próprio se define, ele não é um soldado. É apenas um padeiro, numa causa que não é sua e que ele não compreende muito bem o sentido. E por aí vai.

Tem também as histórias dos comandantes de tropas: um equitador campeão olímpico e um oficial de carreira. Ambos tiveram contato com a cultura ocidental. Eles cumprem o dever de defender a pátria japonesa sem, no entanto, negar as virtudes da sociedade inimiga, no caso, a americana.

E é justamente na desmistificação de alguns valores, tidos como irrefutáveis, que está o ponto alto do filme. Mesmo entre os japoneses, conhecidos pela conduta super rígida e disciplinada, há espaço para comportamentos menos autômatos e para a manifestação de sentimentos mais humanos. A rendição ao inimigo, por exemplo, poderia ser considerado um ato de covardia. E, afinal, o que é covardia? Trair a pátria para retornar ao lar e conhecer a filha recém-nascida, como no caso do Saigo? Ser feliz?

Desta vez, o Clint Eastwood acertou a mão em cheio. Depois daquele engodo melodramático intitulado ‘Menina de Ouro’, ele se redimiu e surpreendeu. Pena que desta vez não convenceu a academia de Hollywood. Preferiram fazer ‘justiça’ e premiar com os Oscars de melhor filme e diretor o, até então, preterido Martin Scorcese. Business, nothing more than business, meus caros!

Na semana que vem, vou fazer a lição de casa complementar e assistir ‘A Conquista da Honra’, a versão dos fatos sob a ótica dos americanos.

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PS ‘Soldados’
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‘(...) Quem é o inimigo?
Quem é você?
Nos defendemos tanto tanto sem saber
Porque lutar (...) ‘ - Legião Urbana
PS ‘The War’
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‘(...) War war is stupid
And people are stupid
And love means nothing
In some strange quarters (…) ‘ – Culture Club