Marcos Pereira on-line

03 julho 2011

Preto no branco: quando do luto se faz a luz




Quando em vez, ouço uma música várias e várias vezes, over and over again e ela soa apenas como mais uma no dial, no carro, no iPod, no computador, wherever it plays. Por algum motivo (um momento especial que tocou, sensibilidade mais aflorada, sincronicidade com algum acontecimento, ou nenhum motivo aparente), de repente, não mais que de repente, emerge um insight (‘clarão’, em bom mineirês) e tudo se revela. Aquela música, outrora comum, passa a ter contornos bem delineados, relevo realçado, enfim, revela a essência da sua beleza. Quando isto ocorre, fagulhas e fogos eclodem e o cérebro é inundado por um maravilhoso torpor de prazer. Eureca! I catch the beat, ou melhor, I catch the feeling, Em suma, captei a vossa mensagem, amada canção.

Sem mais (Rolando) lero-lero e nem-vem-cá-que-eu-também-quero, aconteceu tal fenômeno pessoal com a música ‘Back to Black’ (letra traduzida em http://letras.terra.com.br/amy-winehouse/932418/traducao.html), da diva Amy Winehouse. Precisou eu ouvir a versão da Cida-cortando-os-pulsos-Moreira (áudio em http://dani-tra.tumblr.com/post/3785556878/cida-moreira-back-to-black-amy-winehouse), numa pegada minimalista (apenas voz e piano, poucas notas musicais, poucos acordes, dramalhão meio tango/meio Tom Waits), injetando doses extras de dramaticidade à já tão clamorosa versão original .

Voz agônica, rasgada, dilacerada, desesperada, revoltada, gritada, enfim, catarze total no gogó, tudo isso junto, aliado ao cover da Miranda Kassin, que assisti durante a semana, ressignificou a música e estabeleceu novas sinapses emocionais em meus neurotransmissores (se bem que o rabo-de-galo de um pé-sujo da Joaquim Eugênio de Lima deve ter ajudado na catalização da reação químico-cerebral). Ao chegar em casa, resgatei o CD (eu ainda compro CDs, quando penso que valem a pena) para ouvir a versão original. Foi mágico ouvir o vozeirão encorpado da Amy Winehouse, típico das negonas fodonas americanas, apoiado sobre um magistral arranjo ... black (roots), com perdão do trocadilho.

Viva (,don´t die,) Amy!
E viva Zapata!